E por falar em amor... (Autor Ricardo de Faria Barros)

Aline e Daniel vão casar. Fico sempre embevecido quando vejo um casal que decide fazer uma aliança, antes de tudo com eles mesmos. Em janeiro desse ano fui o celebrante leigo de enlace de casamento, atendendo ao convite de meus afilhados Suzana e Yuri, e aquele dia marcou meu vier.
Naquela madrugada de sábado, Aline acordou ansiosa, afinal seriam suas primeiras fotos com o seu sonhado vestido de noiva. Fotos que iriam compor o álbum do casamento. Daniel curtia tudo aquilo, com o espírito de roqueiro quando ouve Bono Vox, ou seja, de alma elevada.

Eles estavam fazendo, naquela manhã, o que milhões de outros casais, mundo afora, fazem: preparam o álbum do casamento, colhendo cenas prévias a dois.
O fotógrafo convidou-lhes para fazerem uma tomada ao raiar do dia, tendo os pinheiros do Paranoá (DF) ao fundo, o que faria uma composição e molduras perfeitas.

Ao chegarem ao local, pelas 6 da manhã, deixam-se guiar animados pelo “diretor de fotografia”.
Tudo é festa, tudo é novo para eles. Entre uma foto e outra, beijam-se, como que a celebrarem aquele momento tão especial que vivem, sentindo o do frisson do dia que chega à galope.

Mas, nem sempre as coisas saem como previstas. A deusa da Fatalidade sempre pode aparecer e rodar o carrossel do destino, alterando tudo que antes existia, transformando a realidade e para pior, fatalmente pior.

Ladrões saíram de dentro dos pinheiros, renderam à mão armada o casal, e o fotógrafo, e levaram tudo deles. Carro, máquina, dinheiro, celulares, e o mais que puderam amealhar no local.
Aline e Daniel ficaram em estado de choque. Quem já passou por isso sabe o quão profundo é o trauma que causa. Acredito que tiveram muita sorte. Aliás, não é sorte, é Graça. Muita coisa poderia ter dado pior ainda.  Desde violência física, sexual e até a “queima de arquivo”.  Mas, para quem perde um carro, celular, fotos e dinheiro, e já com as economias minguando,  torna-se um motivo de muito desgosto.

Mas, o principal os ladrões não levaram. O amor entre eles. E, se existe amor, qualquer despesa com festa de casamento, bens materiais e até viagens, caso não possa mais ser realizada, não destruirá o enlace. Pelo contrário, tornará o casal mais forte ainda. Quando o amor impera, o que não nos mata, nos fortalece.  Como diz a canção “Diga Sim”, da Isabela Taviani: “Prometo ser sempre seu abrigo. 

Na dor o sofrimento é dividido.  Eu comprei uma casinha tão modesta. Eu sei, você não liga para essas coisas. Te darei toda a riqueza de uma vida: O meu amor. ”

Sim, a maior riqueza que Daniel pode dar à Aline, e ela a ele, é o amor recíproco entre os dois.
Tenho me espantado com o prazo de validade dos casamentos do Séc. XXI, e aqui não vai nenhum papo careta, do tipo: “fique na merda, sofra muito desprezo, indiferença, seja agredida(o), diminuída(o), anulada(o) e até que a morte os separe”.

Não, longe disso. Só que não acho natural o amor acabar, nem digno de nenhum tipo de comemoração, se um da entre eles já existiu amor. Todo fim, quando havia amor e promessas entre eles, causa dor, pequenas mortes e um monte de culpas e mágoas. E ninguém acorda de madrugada para tirar fotos achando que o que viverá tem um prazo de validade. Ninguém casa já marcando na agenda o dia que descasará.

Então Aline e Daniel vou contar a vocês o que mais escuto na minha clínica de psicologia, quando é esse tema que chega: “Vim aqui para tentar salvar meu casamento”.  Eu fico tão feliz quando é essa a demanda, não pela dor de quem me procura, mas pela grandeza do gesto de quem se propõe a isso.

Portanto, antecipo as recomendações a vocês que se amam, para que essa chama se mantenha por muito mais que cinco anos. Mas, precisam ser praticadas por ambos. São conhecimentos recolhidos em entrevistas com casais que se amam, após décadas juntos. Muitos, descobriram essa fórmula só na terceira estável, ou seja, tiveram que aprender no lombo e na dor. É a fórmula do CAR, a essência de todo amor, não só entre marido e mulher, mas em todas as formas que ele se traduz. 

C de Cuidar.  Cuide dela Daniel. Leve chá quando ela gripar. Ajude nos trabalhos de faculdade. Limpe a cozinha. Divida as tarefas com os filhos. Acorde de madrugada para cobri-la. Ligue durante o dia, mande mil mensagens perguntando como ela está. Nos dias de TPM, não a deixe mais nervosa do que ela já se sente. Cuide dele Aline. Veja como anda a alimentação dele; se está menos sedentário, se fez aquele check-up anual. Proponha a ele beber menos, ou parar de fumar. Prepare um caldinho para esperá-lo nos dias mais frios. 

Cuidar é doar-se ao outro fazendo para ele coisinhas que ele se sinta especial, protegido e estimado. 

Quem cuida ama. Quem cuida preocupa-se com a agenda do outro, com o estilo de vida do outro e quer sempre sua melhora, seu progredir. Quem cuida não fica falando mal do outro, ou destacando nele apenas o que lhe faz falta. Quem cuida, encontra no outro razões para ser feliz, e não para ser infeliz.

Quem cuida não asfixia o outro, não vira dependente dele. Quem cuida confia, não ingressa em paranoias ciumentas doentias, que priva o outro dele mesmo, que tira dele a autonomia do vir-a-ser. Quem cuida dá asas ao outro, pois sabe que amor nenhum, se for dos bons, será perdido pela presença e influência do amado noutros ambientes. Mas, quem cuida também se oferece para deles participar, tomar parte naquilo que o amado está vivendo, mesmo sendo um terreno quase privado.     

A de Admirar.   Admire o mundo ela Daniel. Admire os amigos, a empresa em que ela trabalha. A família dela, a cultura, os gostos e pequenas esquisitices. Admire o mundo dele Aline. O time que torce, o ritmo musical que gosta, os hobbies que possui, os grupos que ele frequenta. Admirar é conversar de forma apreciativa sobre o mundo do outro. É acolher o mundo do outro como o nosso mundo. Inclusive os filhos, caso venham como “passivo amoroso”. Admirar é curtir tudo o que faz parte da vida do outro. 

Quem admira o mundo do outro tem sempre um papo para um jantar a dois. E, o que mais tem destruído os casamentos não é de intimidade física e sim espiritual.  É a solidão a dois, solidão dos presentes. A pessoa começa a ter mais papo com seus amigos das redes sociais do que com o parceiro afetivo. E um vazio enorme começa a nascer, pela falta de um gostoso e rotineiro papo a dois, daquele em que nos sentimos ouvidos de forma atenciosa e paciente, seja a besteira ou banalidade que estejamos contando.

Quem admira deixa o outro fazer morada no coração.  Se o outro coleciona selos, e quem o admira está em viagem pelo exterior, a trabalho, ainda assim encontrará um tempo para ir numa agência de correios e comprar selos, ou num sebo comprar discos de vinil.  Selos e vinis são metáforas do que o outro gosta.  Quem admira o mundo do outro, passa a conhecer as necessidades dele. Então, um dia você se pega numa livraria, procurando um livro para os estudos dela, e abre um sorriso quando o acha. Ou, abrindo mão de seu passeio para a Chapada, para investir em ingressos de uma banda de rock, que ele gosta tanto, e poderem ir juntos. E, por mais paradoxal que seja, mas quem ama me entenderá, e mesmo sem gostar de rock pauleira.

R de Renovar. Daniel, renove todos amanheceres, entardeceres e anoiteceres o amor por Aline. Não deixe que um estresse entre você e ela dure mais que um dia e uma noite. Aprenda a pedir perdão, até quando não fez nada, olhando pela sua ótica. Coloque-se no mundo dela e tente entender o porquê dela ter ficado tão chateada. Para você pode não ter sido nada, não ter feito nada, ou nem ter tido a intenção de machucá-la, mas aconteceu. Então, use da empatia e sabedoria, e faça um cafuné nela, pedindo perdão. E mude, aprenda o que a tira do sério e aprenda a contornar aquilo, para não provoca-la. 

Aline, aprenda a ler o Daniel, em seus sinais não verbais, daquilo que não gostou do que fez. Nem sempre falamos do que nos fez infeliz, e vamos engolindo as coisas. Chame ele para uma conversa amena, sem julgamentos, sem acusações. Tente entender, do ponto de vista do mundo dele, o porquê aquilo o chateou. 

No R, de Renovar, o perdão assume uma função imprescindível. Não há relacionamento que se preze como bom sem dias de tensão. Dias de baixa energia amorosa, de medo, de sofrências e até incertezas pelo futuro a dois.  Mas, o amor usa o sábio compositor do tempo, para tecer a partitura da boa convivência. Não discutam de cabeça quente. Mas, após um dia de ruminação, de ficar matutanto, já é hora de um dos dois ceder e conversarem de forma pacífica, repito, forma pacífica, sobre o que causou desgaste. 

Tenham cuidado com os filhos.   Muitos casais esquecem de renovar entre si o namoro, e todos os dias, por passarem a assumir integralmente os novos papéis de pai e mãe. E a solidão vai entrando no coração de um deles, ou até de ambos. E quando esse assumir, de forma tão radical, os papeis de pais virará uma doença, até asfixiante para os filhos, extinguido pouco a pouco a chama do amor. Tem uma hora que precisamos fazer o desmame deles, e não se perder na relação a dois. O que não significa não lhes amar. Significa preservar o espaço a dois do casal.  Renovem aquelas rosas que davam um a outro.

Renovem as aventuras que achavam um tempo, ao longo do dia, para juntos fazê-las. Renovem as pequenas loucuras, as santas transgressões a que se permitiam com tanta alegria antes. Renovem as esperanças nos projetos e futuro comum. Renovem os votos periodicamente, tenham sempre eles por perto.   E, sempre que uma floreira como a da foto dessa crônica passar por um de vocês, e quando sozinhos estiverem se divertindo com amigos (as) em algum bar da vida, lembrem-se de comprar uma rosa e levar para o amado ausente, fica a dica. Pronto Daniel e Aline, terminou a sessão. Abaixo textos que um dia escrevi sobre os quatro tipos de amor, existentes em quem se ama, que poderão servir como material de reforço à essa crônica-terapia.

Deixo-vos com um casal que tem o CAR em nível avançado, veja a história deles e se inspirem: https://bodecomfarinha.blogspot.com.br/2015/04/passo-passo-em-direcao-vida-quase-ficcao.html 

E, se tiverem um tempinho ainda, antes do casório, leiam juntos as quatro formas de expressão de amor, que precisam ser cultivadas e nutridas entre vocês:



2 comentários:

  1. Ricardo, Rodrigo acabou de me enviar o texto... fiquei muito feliz e honrado com esse presente concedido a mim e Aline. Ficou perfeito, parece que você nos conhece em tudo, não tenho palavras pra agradecer. Com certeza iremos guardá-lo em nossos corações e fazer de tudo para segui-lo à risca! Espero que tenhamos o prazer de conhecê-lo pessoalmente! Um grande abraço nosso para você e muito obrigado!

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