Reset e Power de Si Mesmo. (Autor Ricardo de Faria Barros)

Há um tempo de resetar, e outro tempo de reinicializar o sistema humano.
Estava fazendo uma sessão de life-coaching e minha cliente chegou naquele dia com visíveis sinais de júbilo.
É que após dez longas semanas de sessões, nos quais cultivamos de espaços de autoconhecimento, ela teve uma iluminação e se sentia potente para avançar à próxima etapa, a do autodesenvolvimento para a alta performance, na vida profissional e pessoal.
Brinquei com ela dizendo que ela tinha resetado seu sistema cognitivo-emocional, ao se permitir fazer aquele profundo mergulho em si mesma. E que agora, ela ousou teclar o power novamente, acionando aquela tecla para reinicializar seu sistema novamente.
Ela sorriu e confirmou.
Quantas vezes em nossa vida precisamos ter coragem para mergulhar em nós mesmos, e tirar de nossa vida tudo que é enganação e que nos oprime.
Não se trata de um processo fácil, e cada um dos que me lê sabe dos momentos de resets que já teve na vida.
É aquele instante em que sacamos que não dá mais para ser feliz, continuando fazendo as coisas do mesmo jeito, se de fato queremos que aconteçam coisas diferentes em nosso viver.
Considero um dos momentos mais ricos na vida e crescimento de um ser humano.
É quase como se trocássemos de pele, como as cobras fazem, ou de garras, como as velhas águias também.
Um monte de coisas foram se juntando ao nosso sistema cognitivo-emocional e estão pesando.
Nesse momento da sessão ela falou de uma viagem que fez num parque num país da América do Sul. Ela sabia que teria que prover sua alimentação e de mais duas pessoas que a acompanhavam, e por dez dias. E que, ao entrar na trilha, estaria pela sua própria responsabilidade a responsabilidade, visto que os guias só acionam o resgate após o prazo que ela pactuou na entrada de permanência nas montanhas e vales escarpados, sujeitos a ataques de pumas, no caso dela de dez dias.
Então, marinheira de primeira viagem, ela comprou muito mais mantimentos do que necessitava, e a viagem que deveria ser prazerosa, tornou-se um martírio, pelo peso extra da tralha.
Ela contou que tinha vontade de comer logo tudo aquilo, pela dificuldade de carregar, mas que estava ainda insegura. Ao retornar, sobrara pelo menos uns três quilos de comida. E, caminhar 40 km com três quilos a mais, viram três toneladas.
No ano passado ela retornou, e só levou o necessário para fazer uma caminhada feliz. E sobrou muita pouca coisa, mas em nenhum momento ela teve falta de nada, ou privação. Ela aprendeu a fazer a jornada com menos peso, para encontrar o prazer no caminho, e não no descanso arfando, embaixo de raras sombras de árvore.
Por isso é importante o tempo de resetar. Do mesmo jeito de um computador, nosso sistema interior fica rodando mais devagar, fica pesado, não carrega direito as aplicações, não nos obedece no tempo e situação em que mais precisamos, ele trava a todo instante. E não é vírus. É um monte de coisas que está rodando em paralelo, ou sendo carregado na inicialização do sistema, que diminuir a capacidade de processamento, consomem memória.
Na nossa vida é justamente assim. Temos que levar menos bagagem na jornada, temos que decidir o que de fato vale a pena ficar pensando naquilo, ficar rodando aquele arquivo em paralelo, aquele mesmo que rouba energia emocional e cognitiva para outras áreas de nossa vida, que precisam de atenção.
São mágoas que vão ficando pregadas em nosso ser; são perdas que tivemos e que nos fazem olhar muitas vezes para trás; são expectativas superdimensionadas dos outros com os quais nos relacionamos; são traumas e sofrimentos a que fomos submetidos e que nos marcaram. São coisas que grudam em nosso aparelho cognitivo-emocional e tiram dele a capacidade e a coragem de avançar, vida a dentro, assumindo novos riscos, permitindo-se novas aventuras, deslumbrando-se com novos aprendizados e assombrando-se com a beleza de simplesmente viver.
Mas, não basta apertar o reset. Embora seja o botão mais difícil de apertar, após um certo tempo de “apagamento”, importante para se conhecer, avaliar melhor a situação, e se permitir beijar a lona, é necessário do reset sair. Chamo esse tempo de deserto cognitivo-emocional. Um tempo de pouco florescimento interior, mas de muitas descobertas do tipo de solo e sementes de que de fato queremos cultivar em nosso jardim interior. Eu ando no meu tempo de resetar, e aproveito o deserto para selecionar novas sementes, limpar o solo e arejá-lo para que seja como uma macia cama, para as sementes que lançarei, na nova fase que virá, a do Reinicializar.

Aquela que quando chegar, num belo dia, ao nos olharmos no espelho e gostamos do que vemos. Ainda um esboço, somos sempre nosso melhor esboço possível. Aí pela primeira vez, na fase de resetado, aquelas lembranças não tiram mais nossas lágrimas, aquela pessoa, passou, finalmente. Aquela cena, parece tão distante. E aquele luto, vira uma doce memória, ou apenas uma tíbia assombração, sem força para nos paralisar de medo. Aí, vamos chegando perto da tecla power, um tanto sem jeitos, um tanto desconfiados, sem acreditar que estamos prontos, embora inacabados, para nos reinicializar.
Apertamos o power, e decidimos o que deverá carregar em nosso sistema cognitivo-emocional, e o que deverá ser deixado de lado, já não nos pertencem mais, já deram, páginas viradas.
E passamos a rodar melhor, mais livres, autônomos e seguros, de que os velhos condicionantes e circunstâncias ficaram para trás. Mudamos de fase. Agora renovados e restaurados em nossos propósitos de vida.
E a esperança, mãe de todo reinício vem nos saudar com um beijo na testa, daqueles que nos dizem, eu confio em ti!

Então chegarão tempos de resetar, tempos de reinicializar o sistema da vida, sem mais carregar tantas tranqueiras, diferente, mais leve e feliz.

Resetar-se de um estilo de vida excessivamente ambicioso e alto custo para manter as aparências.
Resetar-se de uma sede inesgotável pelo consumo e pelo ter.
Resetar-se de pessoas que oprimem e te jogam para baixo, destacado em ti apenas o teu pior.
Resetar-se da fome de poder, das vaidades e da arrogância de todo tipo de orgulho e saber.
Resetar-se de toda ansiedade e correria, até daquelas piores, as que fazemos como quem a mendigar aceitação e valorização dos outros.
Resetar-se das culpas dos sonhos não realizados, projetos inacabados e objetivos não alcançados.
Resetar-se das expectativas dos outros sobre si mesmo, e da suas sobre eles.
Resetar-se das emoções negativas e de toda carga de sofrimento delas derivadas.
Resetar-se das lentes pelas quais vê a vida, que foram ficando embaçadas pela indiferença, ou pensamentos negativos sobre si mesmo, o outro e a realidade.
Resetar-se de tudo que abala a autoestima tais como espelhos cruéis, balanças sádicas e de oráculos tiranos, com suas profecias negativas sobre você.
E, ao permitir-se o reinicializar, que seja mais leve, com menos tralhas emocionais desnecessárias para ser mais feliz, sem mais as coisas resetadas acima. E, agora na vida novamente, podemos não saber direito ainda o que queremos, para onde iremos, o que nos tornaremos, mas sabemos muito o que não mais queremos, para aonde não mais iremos e o que não queremos mais ser.

Garanto-lhes, isto na beleza de existir é um tremendo avanço!
É um acontecimento digno de um brinde ao vir-a-ser, como todo bom power consigo carrega!
Se é!

2 comentários:

  1. Professor Ricardo, comecei a sua aula na Pós-graduação vivendo um dos momentos mais difíceis da minha jornada de vida. Em um momento da aula, fiz um desabafo do o que estava vivendo no meu emprego, que hoje é meu ex-emprego, e você me propôs que vivesse aqueles nossos intensos oito encontros como uma oportunidade para olhar com novas lentes a vida. Assim o fiz. Agradeço imensamente ter me proporcionado a oportunidade de resertar.

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    1. Que depoimento lindo, minha amiga. Que o bom Deus esteja sempre em teus passos e que uma jornada de luz e graça abra-se em teu viver.

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