Um outro amanhã possível. (Autor Ricardo de Faria Barros)


Essa frase foi proferida na Série Marco Polo, pelo seu treinador de artes marciais. Ela foi-lhe dita quando o treinador adentra o ginásio e percebe que ele estava acordando ali, deitado no chão, após uma noite de embriaguez.
O treinador pergunta o que houve, e Marcos fala que quando retornou, após longa viagem pelos confins da Ásia, encontrou a sua amada nos braços de outro, casada com o príncipe herdeiro. O trenador tem uma profunda compaixão da emoção que o Marcos sente, que por aqui chamamos de sofrência.
E, num golpe de ninja emocional, desvia-lhe a força alterando o curso dos pensamentos negativos, com essa lapidar frase:
"Um Homem que deseja ser infeliz encontra muitas formas de provar seu destino".
Aí, não resisti, dei pause no filme, peguei a câmera, voltei um pouco e fiz essa foto. E disse comigo mesmo: uauuuuu!!!!
Que sabedoria!
E isso vale para qualquer tipo de luo. Desde o luto da mulher amada, ao luto de um processo de adoecimento, do desemprego, da morte, ou até da mudança de cidade natal.
Todas as formas de luto têm uma coisa em comum.
Elas fazem crescer a raiz da amargura.
Que, silenciosamente, nas profundezas do coração, vai estendendo seus domínios, penetrando em tudo e tirando a graça e a beleza de todas as demais áreas da vida.
Foi isso que o mestre samurai quis dizer a Marcos. Que se ele não tiver cuidado, essa dor vai afogar-lhe por inteiro, roubando-lhe energia para outros projetos, ou desejos de vida. Vai secar-he, sendo o pior de todos os golpes que receberá em vida, pois é um golpe auto-imune, quase como uma alergia emocional.
Por isso precisamos vigiar as fronteiras de nossos pensamentos, como seus cursos de rio de águas pessimistas, e as consequentes emoções negativas. Para que elas não acabem por alterar completamente a percepção da realidade, moldando-a para que caiba dentro da sofrência.
[...] encontra muitas formas de provar seu destino".
Não caros amigos, não há fórmula fácil para eliminar a praga da raiz da amargura.
Quando o luto nos sobrevém, seja por qualquer transição que estejamos passando, ele consome energia emocional, e nos suga. Mutias das vezes precisaremos de ajuda, dos amigos, religiosos, ou dos profissionais da psique.
Mas, talvez a principal receita o mestre samurai tenha dito a Marcos, e que vale para nós todos.
Cuide dos desejos. Recupere os desejos bons. Leve-se para passear. Aprenda a contemplar o infinito.
Cuidar do desejo é pensar sobre o pensado. E, ao pensarmos sobre o pensado, identificamos o progresso da sofrência, e temos como atuar sobre ele, de forma consciente, dando-nos outras chances para ser feliz.
No lugar de procurar mais justificativas para ser infeliz. A vida pede respostas, no lugar de justificativas.
Hoje trabalhamos essa foto na sessão de coaching. Era dia da segunda devolutiva do DISC, uma ferramenta de auto-conhecimento, E foi super legal. A foto deu um bom caldo sobre nossas profecias limitadoras. Nossas estacas emocionais que nos prendem a um hábito, modelo mental, ou alguma crença perversa sobre nós mesmos, os outros ou a vida.
A conversa foi boa, e derivou para uma experiência de domingo à noite, quando intervi num cano de jardim quebrado.
JG (meu 4 filho, de 8 anos) quebrou o cano , ao nele tropeçar, e a sua reação de medo, de uma consequência mais séria, fez-lhe fugir para seu quarto. Atitude prudente, esse JG sabe de tudo.
E, quando estamos em estado de sofrência queremos mesmo é fugir para um lugar qualquer. Tememos enfrentar nossos monstros, medos e incertezas. Ou enchemos a cara e vamos dormir no tablado,para no outro dia ficar bem ressaqueado e com pena de si mesmo. Gostamos do papel de vítima.
Existem muitas noites dormidas no tablado, que ao delas acordarmos, a vida estará nos pedindo respostas.
Afinal, não há nenhuma garantia de que viveremos um dia a mais sequer.
E, é preciso levantar-se do tablado, e recomeçar. Seja o que foi que ao nele tropeçar: como a torneira do jardim do JG, tudo ficou um caos.
Durante nosso diálogo socrático lembramos dos trapezistas e sua arte.
Para pularem no infinito vazio ele treinam muito tempo.
Quem sentado na arquibancada de um circo vê o espetáculo, acha que é até fácil.
Mas, não sabe o quanto de disciplina, de renúncias, de esforço ele investiu para perseguir seu sonho.
Assim será com muitas situações de desespero, pânico, dor e sofrer, daquelas que nos levam ao imobilismo, ou à fuga.
Quanto mais tempo ficarmos deitados no tablado, ou enchendo a cara para esquecer os problemas, mais a raiz penetrará em outras áreas de nosso viver, criando uma força que elimina qualquer resto de vida que ainda exista.
Nas transições, mutações necessárias, não há nenhuma garantia. É como o trapezista que se lança no vazio, e com esperança projeta suas mãos ao encontro de outro que também de lá pulou.
Não há garantias, se der errado. E os braços dele nãos e conectarem ao do outro. Ele volta de onde pulou, contudo mais experiente para o próximo salto.
Se der certo, ele celebra a conquista do impossível.
Se por ventura cair na rede, ele deixa que ela amorteça o peso da existência, até que de um salto levanta-se dela e recomeça sua jornada.
Não há tempo para ficar deitado na rede. O show tem que recomeçar.
Me coachee trouxe à tona inúmeros projetos que pedem dele um posicionamento, para além da sofrência e luto com os mesmos, pelo que eles não deram de frutos esperados.
Isso mesmo. É preciso mover a vida. Lançar-se no trapézio. Sair da posição de desamparado, e resgatar as coisas bacanas que ainda existem, procurando razões para ser feliz.
Quanto ao que deu errado, quando as emoções positivas frutificarem, quando as coisas pelas quais ainda valem a pena por elas viver crescerem, elas mesmas vão sombrear o negativo, tirando-lhe a força.
Não se combate o negativo, o luto, o sofrer, pensando nele. Quanto mais se faça assim mais ele cresce.
Combate-se investindo no bom, no saudável, no bacana, no legal, no que ainda mobiliza o desejo, eros e afrodite. E é por aí, pelo ser desejante que renasce que a vida vai se restaurando.
Não aquela idealizada, mas a possível, num aqui e agora vivido no presente.
Como bem disse Tiago, meu 1 filho, ao cozinhar para nós no final de semana. "Quem pensa em excesso no futuro, vive na ansiedade de um Se. Quem pensa em excesso no passado, vive no saudosismo, de um Quando. Quem pensa em excesso no presente, vive no estresse, de um Já".
A arte da vida talvez seja a combinação de doses do Quando, do Se, e do Já.
Sem deixar que o amanhã incerto ofusque o presente vivido.
Sem deixar que o ontem dolorido, tire o sabor do hoje sentido.
Sem deixar que o presente difícil, tire a esperança de novos dias recém-amanhecidos. Em um outro amanhã possível.

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