Da alegria de educar (Por Ricardo de Faria Barros)

Cheguei na sala de aula e uns 8 alunos já esperavam. Um bom presságio.
Nem sempre eles chegam na hora, e o que chegam, são, na maioria das vezes, muito comprometidos.
Ou seja, eu já tinha 8 pessoas pra trabalhar.
Enquanto ia plugando meus equipamentos, um deles soltou: "sua aula é a mais esperada de todas, desde que entramos na Pós da UNIP! "
Aquilo me deu um frio na espinha. Abri um sorrisão e soltei um:
"É nadaaaaa!!!!"
Aí eles, em coro, começaram a falar do que tinham ouvido dos alunos dos períodos à frente, e até de alguns colegas de trabalho, que pelas minhas aulas passaram.
Agradeci humildemente a Deus. Poder estar sendo instrumento para abençoar a vida de meus alunos. Que seja sempre para a honra e glória de Jesus, apenas. Toda arrogância e orgulho do saber degradam a beleza da alma.
Falei que o papel de um profissional de RH é o de abrir caminhos para a humanização das relações capital e trabalho, sendo quase que um subversivo.
E que para isso, eles precisam passar por transformações em seu modelo mental e na forma como percebem a si mesmos, aos outros e a realidade.
E que esse era o maior objetivo de minhas aulas. Mas, que eu seria apenas um facilitador, que a mudança era uma aposta deles, neles mesmos. Uma entrega.
Que não adianta apenas crer no poder restaurador e refrescante da brisa Aracati, e ponto final. Tem que se mexer, em direção à mudança que almeja. Tem que botar as cadeiras do lado de fora de casa, na calçada, e esperar que ela chegue. Abrindo as janelas e portas do coração.
Numa referência ao vento que sopra do mar, por cima do rio Jaguaribe, lá no Ceará, numa condição única no Brasil, e que leva a brisa úmida por 300 KM, sertão adentro, conseguindo por onde passa baixar o calor local em até 5 graus, como se fosse um imenso ventilador e umidificador natural.
Mas, que sem botar as cadeiras do lado de fora do terreiro, da calçada, do quintal, sem abrir as janelas e portas, não se sentirá nunca a brisa aracati soprando. Ela precisa de uma ação concreta nossa para ser experenciada.
Assim serão as aulas. Eu provocarei com brisas aracatis, mas eles precisarão botar suas cadeiras emocionais para o lado de fora de suas vidas. E se permitirem arejarem-se em todos os aspectos, psicologicamente falando.
Então, convidei-lhes a construírem comigo as aulas, dividindo os textos que estão no site da Ânimo, na aba educação corporativa, entre duplas de alunos. Para condução, dinâmicas e reflexão feitas por eles mesmos, aula a aula.
E que, para isso, eles não deveriam se preocupar com notas e frequencia.
E uma aluna disse: "É professor, e eu soube que mesmo assim ninguém perde suas aulas e todos se esforçam muito nas tarefas de casa e sala de aula."
Então comecei a aula. Começamos dançando o Oi-Êpo.
Depois, passei o primeiro vídeo da série as X Chaves para Felicidade.
O papel das relações.
Abrimos um espaço de interação, com cada aluno contando o valor emocional dos grupos de que participa.
E foi uma etapa da aula muito rica. Uma aluna falou que faz parte de um grupo Naninhas do Bem. Eles fazem bonecos de pano para pessoa que estão hospitalizadas ou em asilos.
Depois um aluno falou que tem um grupo no ZAP para pessoas de sua empresa que estão sofrendo, emocionalmente falando. E que o grupo funciona como se fosse um espaço de coletiva ajuda.
E, aluno a aluno, fui me emocionando com os grupos que eles traziam. Grupo de pescaria, grupo de ex-alunos, grupo de amigos do trabalho, grupo de amigos da vida social que nunca deixaram de viajar juntos, e que os filhos cresceram juntos.
Vibrei com cada um deles. Quem têm grupos para chamar de seus têm tesouros em vida.
Na segunda metade da aula, mostrei o que anda ocorrendo com nossa sociedade, em termos de ambição,estilo de vida super-consumista, e coisas do gênero, e os tipos comportamentais que estamos produzindo, e que habitam todo lugar, de famílias á empresas.
E de como precisamos nos vigiar para não aprendermos com esses comportamentos, para não corrermos riscos de ficarmos iguaizinhos, ou piores, daquilo que abominamos no outro.
Depois, convidei a todos para que venham com um amigo na próxima aula, na quarta, pois a aula servirá para todos, e nela falarei de minha vida e descobertas recentes em psicologia positiva.
Pelas 23hrs, voltei para casa, de coração exultante e agradecido a Deus. Por me permitir mais uma jornada de professor, e, junto com meus alunos, ajudar-me a buscar e valorizar as coisas que realmente por elas valem pena viver.

Há de se fazer jardins! (Autor Ricardo de Faria Barros)

Numa mesma cobertura: dois apartamentos.
Num deles, a assepsia reina. Tudo limpinho, sem qualquer presença que denuncie o humano. O morador eventualmente vai na cobertura, já o flagrei contemplando o horizonte.
No outro, um diferente morador fez dele um jardim, com suas inevitáveis folhas secas, seu pó de terra avoante, e alguns cocôs de pássaros que dele vem se alimentar, ou simplesmente namorarem com suas passarinhas.
De um lado, a vida asséptica, toda controlada, limpinha e tão organizada como bancada de programa gastronômico.
Lembram?
Aquelas em que os mestres-cucas usam utensílios cirurgicamente dispostos, com seus produtos previamente preparados, esperando a hora de serem postos na receitas, esperando em potinhos angelicais.
Tudo tão organizado que perde a dimensão do improviso, da arte. E, convenhamos, viver não tem nada de ser algo preciso. Nem no amor, nem no trabalho, nem na vida social. Viver é preciso. Não se coloca a vida numa planilha de excel.
Ou você acha que amará alguém, no sentido carnal do termo, por apenas querer amar?
Não se ama por querer amar alguém. Aliás, você sabe por que ama alguém, de um tantão, e um outro alguém não tanto assim? O amor é mistério, e mistérios são como o jardim da foto.
Garante-se a semente, não se garante o vingar. Não se pode precisar seu desenvolvimento, não há precisão, ou garantia matemática, dos resultados de um jardinar: em pessoas ou na natureza das coisas.
Então, caros amigos e amigas, a vida não tem nada de precisa.
A vida pede jardins, mesmo com seus ônus. Prefiro morar mil vezes no apartamento do jardim, do que no outro, limpinho e sem tralhas. Não temo as folhas secas, pois a vida pede um certo desarrumar-se.
Os lares também. Um lar, verdadeiramente falando, têm aromas, têm respingos, têm coisas largadas, aqui e acolá, têm sons, tem vida. Um lar pede um certo caos, mesmo que organizado.
A vida pede sujar os pés no chão, pede boca melada de fruta comida com as próprias mãos, pede experiências significativas, que só as terá, quem se permitir sair dos programas tradicionais, impressos em belos folderes, fazendo seus próprios roteiros e destinos.
A vida pede que subamos pelo elevador, carregando sacos de terra adubada, vasos de mil formatos, plantas de todos os tipos, e que com elas façamos nosso jardim interior.
Quem fica sempre na asséptica rotina dos dias.
Ou na cuidadosa segurança da rotina, nunca saberá de fato o que é viver.
Passará pela vida e não terá vivido. Não alterará o ambiente em que habita, como esse morador ajardinado o fez.
Atraindo borboletas, beija-flores, bem-te-vis e abelhas para nele polinizar a vida, e dizer, em cada flor que se abre, que viver, amar, valeu!
Portanto, tratemos de criar jardins e pomares em nossas coberturas existenciais. Outros, e a nós mesmos, dela se alimentarão.
Deixo-vos com o poetinha maior, Vinicius de Morais, que tão bem falou sobre esse se doar, se ariscar e se dar à beleza de viver:
"Quem já passou
Por esta vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá
Pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou
Pra quem sofreu, ai
Quem nunca curtiu uma paixão
Nunca vai ter nada, não
Não há mal pior
Do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa
É melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir?
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração
Esse não vai ter perdão..."

Alegrai-vos com quem se alegra! (Autor Ricardo de Faria Barros)


Têm experiências bacanas que vivemos que os outros podem até ter acesso a elas, mas só saberão de fato sua importância, quando desenvolverem o olhar de compaixão e empatia.
Por exemplo, eu viajo nas viagens do Newton . Creio que ele é uma alma perfumada e generosa, em ir registrando essas experiências, como a da foto que ilustra esse texto, e compartilhando conosco.
Nunca fui em Portugal, mas já sei muito de Portugal pelos olhares do Newton e me alegro com ele.
Acolher a experiência do outro, permite-nos crescer, emocionalmente falando.
O bacana é conseguirmos acolher essa alegria deles, sem termos por ela passado ainda.
Por exemplo, quem nunca viveu situação similar, ainda assim pode se aproximar da alegria, da superação de um dia por vez, de quem tem filho hospitalizado, pelo poder da empatia e da compaixão. Por isso, essas competências da inteligência emocional são tão importantes.
E, é como que uma mágica acontecesse.
Promovida pelo encanto da admiração, e pela osmose simbólica da linguagem comunicativa, essa mágica relacional faz-nos valorizá-las a experiência do outro.
É é como se estivéssemos também as vivendo.
Até conseguimos transitar pela empatia e compaixão quando o outro passa por coisas runs, ao que chamamos de solidariedade.
Mas, precisamos desenvolver a competência da compaixão e empatia, também para as coisas boas que os outros vivem.
Até conseguimos nos irmanar, apoiar e sentir com eles, as não tão boas. Tragédias, fatalidades, desgraças, nos atraem mais facilmente do que as graças, bem-aventuranças, e conquistas dos outros.
Se a pessoa posta que bateu no carro. Aparece um monte de gente que se solidariza, que fala de situações semelhante que viveram, e coisa e tal.
Se a pessoa posta que foi promovida. Um monte de gente simplesmente dá de ombros. E num efeito perverso da inveja, ciúme, ou uma mistura disso tudo, simplesmente despreza com indiferença aquele relato.
Desqualificando-o, ou secando-o no interior do coração.
Uma pena!
Há pesquisas que mostram que um certo percentual de pessoas fica triste ao rolar as páginas do Facebook e ver pessoas divulgando seus bons momentos.
E, vamos aceitando isso com normalidade. Não sem razão o apóstolo Paulo, na sua Carta aos Romanos, diz assim:
"Alegrai-vos com os que se alegram; e chorai com os que choram." Cap 12, 15.
A segunda parte do versículo até conseguimos, de certa maneira, seguir.
O problema, para o qual precisamos nos reeducar, está na primeira parte do versículo.
Aprender a alegrar-se com quem se alegra! Aprender a acolher as conquistas dos outros, as celebrações, as boas experiências pelas quais passam, como se dela fizéssemos parte.
Esse é o desafio! Um desafio só vencido quando eliminamos as emoções negativas do ciúme e da inveja. Emoções que tiram-nos do foco de nosso próprio jardim, fazem-nos cobiçar exclusivamente o do outro. Até secá-lo completamente, em nossos corações. 

O que, volto a dizer, é uma pena!

Da Janela de Onde Salvo (Por Ricardo de Faria Barros)


Da janela de onde trabalha, ela postou a foto do jardim interno de sua empresa. Seguido de um comentário sobre o sentido de seu trabalho.
E, aquilo tirou meu sono da tarde. De radiante e feliz que fiquei. Como existem pessoas luz na humanidade!!
Em flashes de memória rebelde que tenho, evoco os anos de 1994-96, quando a vi, pela primeira vez.
Altiva, mas com medo, ela adentrou em meu grupo de Crisma pedindo uma vaga na turma, era a primeira reunião do grupo.
Ela tinha sido barrada, na inscrição tradicional, por não ter todos os pré-requisitos exigidos pelo "cartório de Deus".
Mas, decidida, meteu os peitos e se apresentou naquela manhã de domingo, na minha turma, dizendo que queria se crismar.
E a fé dela me tocou profundamente, e quem seria eu para barrar-lhe o ingresso naquela turma, mesmo sem dela fazer parte?
Lembro que comprei briga com os outros catequistas, que fizeram voto contrário, "para não abrir precedentes".
Para eles, ela deveria em primeiro lugar fazer o curso preparatório para a primeira comunhão. E, depois, só depois, fazer o de Crisma. Ou seja, já era!
Levei o caso ao padre, e ele gostou da ideia de mantê-la em minha turma.
Mas pediu que eu fosse falar com o Bispo, dado que o regulamento do Crisma é "mais em cima", e são os bispos quem crismam, na Igreja Católica.
Fui no Bispo, o saudoso Dom Luiz Gonzaga Fernandes e ele ficou emocionando, com tamanha fé daquela jovem. E aceitou crismá-la.
Voltei no domingo seguinte exultante, e ela apreensiva de levar um cartão vermelho. Então disse-lhe que ficasse tranquila, que ela não seria mandada embora de meu grupo, por não ter um dos requisitos exigidos pelos burocratas da fé, e que era muito bem-vinda!
A turma toda ficou emocionada e com ela festejaram.
Tempos depois, meu filho casou com sua sobrinha, a Andreza. E nossas famílias se juntaram, carnalmente falando.
Suzana hoje é cirurgiã-médica oncológica. Um ramo que por si só remete ao que temos de mais nobre na vida, o enfrentamento dela, em suas situações limites.
Ao ler esse post dela, abaixo transcrito, vejo Dom Luis sorrindo do Céu, de feliz pela postura dessa sua crismanda.
"Meu lugar de todos os dias....Hospital Napoleão Laureano. 🌹🍁🌳🌱
Dentre tantas especialidades médicas, às vezes me pergunto o porquê de eu estar na oncologia cirúrgica. E nela vivenciar sentimentos variados...me deparando com pacientes que lutam, outros se entregam, mas, todos veem no profissional a esperança da cura, do alívio da dor.
Todos os dias volto pra casa com várias lições, que vão bem além de um bisturi e de uma técnica cirúrgica....
E todos os dias eu me encontro mais com Deus, pois é na minha fé e na fé dos pacientes que tudo se renova.
Acredito que não terei a explicação de ter me encontrado numa área tão difícil em todos os sentidos. Mas, rogo a Deus que me capacite todos os dias, que me oriente, me instrua, me fortaleça, pois se serei um instrumento de Deus na vida de tantos. Que seja com amor, sabedoria e dedicação.
Evoluindo e aprendendo sempre. "
Sabe minha afilhada de Crisma, você nos tocou profundamente com esse seu amor pelo que faz, pelos seus pacientes, e pela luta pela vida.
Você poderia ser mais um dos tantos profissionais que vestem branco, ou qualquer outro tipo de farda, que vão ficando insensíveis ao sentido do seu trabalho.
Vão ficando cegos pela indiferença da rotina de todos os dias, os descrentes pela falta de recursos, ou ressentidos pelas agressões que recebem, inclusive de clientes, ou pelas ingratidões de quem nunca volta para agradecer, nem que seja com um abraço.
Aliás, gratidão é coisa que anda em falta, no Sec. XXI.
E é por uma imensa gratidão pelo que escreveu, que registro essas linhas, certo que em você se identificarão muitos profissionais que amam o que fazem, amam seus clientes e sabem que podem tornar a vida deles um pouco melhor, muitas das vezes apenas com um sorriso, ou uma palavra mansa.
Obrigado por existir! Suzana Correia, obrigado por existir!

Um outro amanhã possível. (Autor Ricardo de Faria Barros)


Essa frase foi proferida na Série Marco Polo, pelo seu treinador de artes marciais. Ela foi-lhe dita quando o treinador adentra o ginásio e percebe que ele estava acordando ali, deitado no chão, após uma noite de embriaguez.
O treinador pergunta o que houve, e Marcos fala que quando retornou, após longa viagem pelos confins da Ásia, encontrou a sua amada nos braços de outro, casada com o príncipe herdeiro. O trenador tem uma profunda compaixão da emoção que o Marcos sente, que por aqui chamamos de sofrência.
E, num golpe de ninja emocional, desvia-lhe a força alterando o curso dos pensamentos negativos, com essa lapidar frase:
"Um Homem que deseja ser infeliz encontra muitas formas de provar seu destino".
Aí, não resisti, dei pause no filme, peguei a câmera, voltei um pouco e fiz essa foto. E disse comigo mesmo: uauuuuu!!!!
Que sabedoria!
E isso vale para qualquer tipo de luo. Desde o luto da mulher amada, ao luto de um processo de adoecimento, do desemprego, da morte, ou até da mudança de cidade natal.
Todas as formas de luto têm uma coisa em comum.
Elas fazem crescer a raiz da amargura.
Que, silenciosamente, nas profundezas do coração, vai estendendo seus domínios, penetrando em tudo e tirando a graça e a beleza de todas as demais áreas da vida.
Foi isso que o mestre samurai quis dizer a Marcos. Que se ele não tiver cuidado, essa dor vai afogar-lhe por inteiro, roubando-lhe energia para outros projetos, ou desejos de vida. Vai secar-he, sendo o pior de todos os golpes que receberá em vida, pois é um golpe auto-imune, quase como uma alergia emocional.
Por isso precisamos vigiar as fronteiras de nossos pensamentos, como seus cursos de rio de águas pessimistas, e as consequentes emoções negativas. Para que elas não acabem por alterar completamente a percepção da realidade, moldando-a para que caiba dentro da sofrência.
[...] encontra muitas formas de provar seu destino".
Não caros amigos, não há fórmula fácil para eliminar a praga da raiz da amargura.
Quando o luto nos sobrevém, seja por qualquer transição que estejamos passando, ele consome energia emocional, e nos suga. Mutias das vezes precisaremos de ajuda, dos amigos, religiosos, ou dos profissionais da psique.
Mas, talvez a principal receita o mestre samurai tenha dito a Marcos, e que vale para nós todos.
Cuide dos desejos. Recupere os desejos bons. Leve-se para passear. Aprenda a contemplar o infinito.
Cuidar do desejo é pensar sobre o pensado. E, ao pensarmos sobre o pensado, identificamos o progresso da sofrência, e temos como atuar sobre ele, de forma consciente, dando-nos outras chances para ser feliz.
No lugar de procurar mais justificativas para ser infeliz. A vida pede respostas, no lugar de justificativas.
Hoje trabalhamos essa foto na sessão de coaching. Era dia da segunda devolutiva do DISC, uma ferramenta de auto-conhecimento, E foi super legal. A foto deu um bom caldo sobre nossas profecias limitadoras. Nossas estacas emocionais que nos prendem a um hábito, modelo mental, ou alguma crença perversa sobre nós mesmos, os outros ou a vida.
A conversa foi boa, e derivou para uma experiência de domingo à noite, quando intervi num cano de jardim quebrado.
JG (meu 4 filho, de 8 anos) quebrou o cano , ao nele tropeçar, e a sua reação de medo, de uma consequência mais séria, fez-lhe fugir para seu quarto. Atitude prudente, esse JG sabe de tudo.
E, quando estamos em estado de sofrência queremos mesmo é fugir para um lugar qualquer. Tememos enfrentar nossos monstros, medos e incertezas. Ou enchemos a cara e vamos dormir no tablado,para no outro dia ficar bem ressaqueado e com pena de si mesmo. Gostamos do papel de vítima.
Existem muitas noites dormidas no tablado, que ao delas acordarmos, a vida estará nos pedindo respostas.
Afinal, não há nenhuma garantia de que viveremos um dia a mais sequer.
E, é preciso levantar-se do tablado, e recomeçar. Seja o que foi que ao nele tropeçar: como a torneira do jardim do JG, tudo ficou um caos.
Durante nosso diálogo socrático lembramos dos trapezistas e sua arte.
Para pularem no infinito vazio ele treinam muito tempo.
Quem sentado na arquibancada de um circo vê o espetáculo, acha que é até fácil.
Mas, não sabe o quanto de disciplina, de renúncias, de esforço ele investiu para perseguir seu sonho.
Assim será com muitas situações de desespero, pânico, dor e sofrer, daquelas que nos levam ao imobilismo, ou à fuga.
Quanto mais tempo ficarmos deitados no tablado, ou enchendo a cara para esquecer os problemas, mais a raiz penetrará em outras áreas de nosso viver, criando uma força que elimina qualquer resto de vida que ainda exista.
Nas transições, mutações necessárias, não há nenhuma garantia. É como o trapezista que se lança no vazio, e com esperança projeta suas mãos ao encontro de outro que também de lá pulou.
Não há garantias, se der errado. E os braços dele nãos e conectarem ao do outro. Ele volta de onde pulou, contudo mais experiente para o próximo salto.
Se der certo, ele celebra a conquista do impossível.
Se por ventura cair na rede, ele deixa que ela amorteça o peso da existência, até que de um salto levanta-se dela e recomeça sua jornada.
Não há tempo para ficar deitado na rede. O show tem que recomeçar.
Me coachee trouxe à tona inúmeros projetos que pedem dele um posicionamento, para além da sofrência e luto com os mesmos, pelo que eles não deram de frutos esperados.
Isso mesmo. É preciso mover a vida. Lançar-se no trapézio. Sair da posição de desamparado, e resgatar as coisas bacanas que ainda existem, procurando razões para ser feliz.
Quanto ao que deu errado, quando as emoções positivas frutificarem, quando as coisas pelas quais ainda valem a pena por elas viver crescerem, elas mesmas vão sombrear o negativo, tirando-lhe a força.
Não se combate o negativo, o luto, o sofrer, pensando nele. Quanto mais se faça assim mais ele cresce.
Combate-se investindo no bom, no saudável, no bacana, no legal, no que ainda mobiliza o desejo, eros e afrodite. E é por aí, pelo ser desejante que renasce que a vida vai se restaurando.
Não aquela idealizada, mas a possível, num aqui e agora vivido no presente.
Como bem disse Tiago, meu 1 filho, ao cozinhar para nós no final de semana. "Quem pensa em excesso no futuro, vive na ansiedade de um Se. Quem pensa em excesso no passado, vive no saudosismo, de um Quando. Quem pensa em excesso no presente, vive no estresse, de um Já".
A arte da vida talvez seja a combinação de doses do Quando, do Se, e do Já.
Sem deixar que o amanhã incerto ofusque o presente vivido.
Sem deixar que o ontem dolorido, tire o sabor do hoje sentido.
Sem deixar que o presente difícil, tire a esperança de novos dias recém-amanhecidos. Em um outro amanhã possível.

Cartas ao JG - Quando Quebrarem-se as Coisas (Autor Ricardo de Faria Barros)



Sabe filho, você foi ajudar tua mãe a lavar o carro, era final de tarde de domingo.
E, tropeçou na torneira do jardim.
Sua mãe desceu as escadas às pressas, chamando-me para intervir no aguaceiro.
Sem querer, você ao puxar a mangueira, puxou com tudo, quebrando a torneira.
E o aguaceiro era enorme, já que a torneira do jardim recebe água diretamente da rua, e a pressão estava forte.
Ao ver o desmantelo, você correu para seu quarto, chorando, com medo de uma reprimenda mais severa minha. Tipo, um cascudo.
A primeira coisa que fiz foi desligar a água da rua.
Depois, notei que o estrago era muito sério, dado que um pedaço da torneira tinha ficado dentro do cano, dificultando que alguma coisa saísse ou entrasse nele.
Pensei comigo que seria coisa para a segunda, coisa para encanador.
De qualquer forma, fui ver se eu tinha algum reparo de torneira sobrando, ou algo parecido.
Com a chave inglesa, tirei a junta que estragou.
E, percebi que tinha nas minhas tranqueiras uma torneira, que já vinha com a junta.
Então, a rosqueei, abri o registro da rua, e vi que ela tinha suportado a pressão da água, sem nenhum vazamento. Depois, acoplei a afixei a mangueira de jardim, e vi que funcionou, até acho que melhor do que a anterior.
Subi no seu quarto, você estava tomando banho, adentrei no seu banheiro e disse que estava tudo resolvido, tudo concertado. Você chorou aliviado, e me pediu desculpas.
Disse-lhe que não havia nada para se desculpar, que foi um acidente, e que você jamais iria fazer aquilo de propósito. E você se acalmou.
Vai ter coisas em tua vida como essa torneira. Que quebrarão, que te levarão a uma sensação de desamparo, de medo, de frustração, por não saber como consertá-las.

Filho, não temas!

Têm muitas coisas que só precisarão de um tempo, para por si só se resolverem.

Para outras, do reino dos bens materiais, terá que aprender a absorver o prejuízo,  sem se deixar tolher, levar-se, pelas coisas terrenas que poderá perder.

Tem gente que é tão escravo das coisas, que deixa de ser humano, virando uma cosia também. Gente mesquinha, de personalidade acumuladora, que se apega aos bens materiais como se eles fossem sua própria existência. Para elas, na hora que algo der errado com seus bens, a vida parece que irá junto.

Não seja assim. Um cano estourado, pode esperar para uma segunda, pode esperar um reparo de um profissional experiente.

Algo que quebrou, pode ser substituído por outra coisa, ou até passarmos sem aquilo.

Conheço gente que perde parte da vida lamentando o que perdeu de algum bem material, sem lembrarem-se que o principal não perderam, a própria vida. E, só a morte, não nos possibilita um reparo no outro dia.

Então, não fique matutando o cano quebrado e jorrando água. Tome providência, não corra com medo.

Vá desligar o registro, vá olhar se na caixa de ferramentas tem algo útil, para o reparo. Aja.

Mas, se o prejuízo for líquido e certo, sem conserto, ainda assim lembre-se que é apenas uma coisa. Que ainda tem forças para recomeçar, para repor o que perdeu, com o esforço do teu trabalho.

Não fique nessa postura de desamparado, remoendo o que quebrou, deixando que isso tire todo o seu encanto e assimbro pela vida.

Coisas quebram. Coisas podem ser furtadas. Coisas podem ser esquecidas. Coisas podem de um dia para a noite não funcionarem mais. 

São coisas. Não são pessoas.

Não confunda uma coma outra. Para com as pessoas, se algo se quebrar em seus relacionamentos, a melhor cola é o perdão.

É o diálogo respeitoso que abre as pontes para a reconstrução dos fluxos de amorosidade.

Só pessoas não podem ser substituídas, como fazemos com uma torneira de jardim. 

Não faça isso com elas, jamais.  E, se com tuas atitudes e comporamentos, vieres a pisar na vida delas, vieres a machucá-las, não fuja da cena. Não vá tomar banho de chuveiro.

Tenha a coragem tomar a iniciativa, e restaurar a paz. Não trata as pessoas como tratamos os objetos.

Não coisifique o outro, ou banalize sua dor. 

E, se um dia alguém te machucar, e de ti ficar saindo um aguaceiro emocional, sangrando por dentro, ainda assim, você poderá se restaurar, a si próprio, tendo menos expectativas das pessoas que lhe cercam, e cultivando uma imensa misericórdia para com elas.  
Mais cedo ou mais tarde, alguém vai esbarrar no cano de teu viver, impedido que de ti, por um momento, jorre água, jorre vida.

Tenha coragem de continuar resistindo.  Não tema esse sangramento emocional.

Vai passar.  E, esse jorro de água, em forma de lágrimas, poderá ser muito libertador para teu viver. 

Poderá aprender muito com ele.

Aprender a repensar atitudes, aprender a se dar valor, aprender a melhor se relacionar, aprender a definir tuas fronteiras, aprender a valorizar o que de fato merece valor.
  
Viver é esta mística jornada, de tropeços e recomeços, de sensação de "não tem saída", para a de achar um reparo e conseguir dar a volta por cima, surpreendendo a si mesmo. 

A arte de sair de um tropeço, de cabeça erguida e auto-estima preservada, talvez seja mais importante do que a de caminhar em terreno suave, posto que nossa jornada peregrina não se dar somente nesse tipo de solo.

Raspa de Tacho (Por Ricardo de Faria Barros)


Tomava meu cafezinho de feira livre, quando o Sr. Francisco, vizinho da banca de onde me sento para comer pastel, se aprochega e me aborda com um potinho de margarina, cheio de umas coisinhas amarelas.
Ele me diz, pode comer, é coisa fina e com café combina bem.
Sr. Francisco me disse que era a raspa do tacho de onde fizera requeijão. 
E, de fato, um manjar de encher os olhos.
Mas, o que me fez mesmo encher os olhos, dessa vez marejados por lágrimas rebeldes, foi o gesto dele.
Há quanto tempo você não recebe de alguém as raspa da panela?
A raspa da panela é o que tem de melhor, em inúmeros pratos.
É aquele gostinho de quero mais, é aquele cozimento perfeito.
Receber a raspa de panela de alguém, é recebe um grande abraço, é receber amor, e faz-nos sentir o amor.
Passei a saboreá-la aos poucos, entre um golinho e outro de café.
Já percebeu que têm pessoas que sua presença em nossa vida é como raspa de tacho?
Que nos dão de seu melhor, que não se poupam para nos ajudar, que nos apoiam, nos estimulam, nos reconhecem, nos amam incondicionalmente, apenas por não saberem ser diferentes, quando estão em nossa presença.
Pessoas raspa de tacho, quem tiver algumas delas em seu viver é um abençoado.
Quantas vezes vamos guardando nossas raspas de tacho, sem doá-las para ninguém?
Creio que uma raspa de tacho, só se torna verdadeiramente uma raspa de tacho, quando é comida com gosto, com colher, sem medo de se lambuzar.
Como fazemos quando deliciamos da presença do afeto, em forma de gente, em nosso viver.
Ganhei raspas de tacho no domingo, e aquele gesto, de me doar o que o Sr. Francisco tinha de mais precioso, e raro, em seu precário tabuleiro de feira, me fez sentir a força do amor.
Quando somos amados, recebemos raspas de tacho. Quando amamos, damos raspas de tacho.
Delícia.
O tacho somos nós, a raspa é o que temos de melhor no relacionamento com o outro.
É a mansidão, é a generosidade, é a gratidão, é o respeito e apoio.
Isso tudo, torna a vida saborosa.
Então, caro amigo(a), preserve, cuide e admire a sua raspinha de tacho, caso tenha uma.
E, caso se sinta assim, para com alguém, deixe-se raspar por ele (a), entregue-se gratuitamente e generosamente à raspada, pois, ao raspar teu interior, eles não ficarão os mesmos, ficarão melhores e mais doces.

Quanto está disposto a pagar pelo teu sonho? (Autor Ricardo de Faria Barros)

Têm sonhos que sofrem de falta de capacidade "acabativa".  O cara é muito bom de opinar, de ter ideias, mas na hora de executá-las ele trava.

Têm sonhos que sofrem de falta de energia. A pessoa quer algo para si, mas não se move em direção ao alvo. Não faz acontecer no presente, o futuro sonhado.

Têm sonhos natimortos, infelizmente. Que não são nutridos, cuidados, cultivados e morrem.

Sonho é um nome bacana para definir desejo. Até porque, o nome desejo ficou muito associado ao erótico. Então, gosto de falar em sonhos desejantes.

Creio que se pode definir vários momentos em nosso viver, vários marcos, ou até marcas que deixamos, ou em nós foram deixadas, pelos sonhos desejantes.

Essa mãe e filha dançando, na foto que ilustra esse texto, são um exemplo de como devemos perseguir o que queremos, e não desistir diante do impossível.

O impossível pode ser somente uma ilusão de como se olha.

Em fevereiro (2017), estava de férias em João Pessoa-PB e fui visitar o salão de artesanato. 

Quando de lá saí, fiquei petrificado de amor ao ver essa escultura. Ela é montada sobre um pivô rotativo, que a faz girar, como se a mãe estivesse rodopiando com a filha.

Tudo nela é movimento, é amorosidade, é ânimo.

Pensei que daria uma boa decoração na sala de minha empresa. Mas, já tinha gasto muito nas férias, era fim de férias, e a prudencia mandava economizar. E, ainda tinha o peso da peça, que dificultaria a vinda de avião, sem ter que pagar excesso.

Despedi-me dessa mãe e menininha, pesaroso, coração apertado. 

Ao chegar em Brasília, eu não tirava da cabeça aquela escultura. De tanto pensar nela, entrei em tudo que era de site do Salão de Artesanato, tentando achar o artesão que tinha feito essa obra de arte. 
Tudo em vão.
Então, descobri o contato do pessoal da Secretaria de Turismo e liguei para eles.
Eles foram muito legais, e me deram o celular da pessoa que mandei cuida do tema artesanato.
E eu mandei um zap para ela, dizendo que queria adquirir aquela escultura e não sabia como.
Seis meses depois, ela me respondeu, eu não a culpo pelo atraso. No mundo digital, as mensagens podem ficar séculos perdidas, dependendo da incidência delas em nossa caixa de entrada. E me forneceu um monte de contatos de artesãos.

Aí, consegui achar o artesão, que na verdade é um casal: Adauto e Lindalva. E, depois de breve negociação, mandei o dinheiro para eles, confiando no fio do bigode. E eles foram deixar o objeto de arte na casa de meus pais, dirigindo de João Pessoa à Campina Grande. E ela será trazida por alguém dos nossos, quando em viagem para Brasília.


Quanto estamos dispostos a lutar por nossos sonhos desejantes? 

Quanto estamos propensos a renunciar, pelas escolhas dos sonhos desejantes que fazemos?

Quanto de entrega estamos dispostos a doar, para construir o sonho desejante que almejamos?

Penso que a vontade de realizar o sonho desejante é uma questão determinante. Não há transformação, não há mudança, não há conquista, sem esforço, sem disciplina, sem noites insones.

Sem isso, a mãe e menininha que rodopiam, estariam condenadas a serem apenas boas lembranças do que passou.

Afinal, não há realizações de sonhos desejantes, sem esforços cambaleantes.

Cartas ao JG - Transições Necessárias (Autor Ricardo de Faria Barros)


Querido JG, era um domingo pela manhã, dia do aniversário de teu irmão mais velho, o Tiago, que fazia 32 anos.
No dia anterior, comemoramos o teu aniversário dos oito anos.
Comemoramos no dia 8, já que o dia 6/7/2017 caiu numa quinta.
Gosto muito do dia seguinte ao teu aniversário.
Embora eu tenha uma trabalheira danada para por a casa em ordem.
No dia seguinte, é quando autorizamos que você abra os presentes.
E é como se a festa continuasse.
Ver sua carinha de expectativa, sua vibração e felicidade, a cada pacote que abre, é um pedacinho de céu.
Da posição em que eu estava, eu tinha uma vista privilegiada de você abrindo os embrulhos.
E, fui notando que passou a balançar as caixas e sacolas.
Algumas deixava de lado para abri-las depois.
Dizia: "é roupa".
E, à medida em que avançava na operação mais caixinhas eram deixadas de lado, e tua expressão foi mudando.
Não é que ficou triste.
Só mudou a expressão.
Sabe aquelas boas atrizes que conseguem alternar na face a expressão de desejo para de frustração?
Assim acompanhei teu rostinho.
No final, recolheu os poucos brinquedos, como tesouros.
Olhou para os "embrulhos sem sons" e começou a abri-los, um a um.
Nós percebemos e passamos a fazer festa, com cada camisa, boné e calça que abria.
Até pedimos que você fizesse pequenos desfiles.
Quando abriu a camisa do Barcelona ficou muito feliz, tu gostava muito de futebol.
Ainda vou te dar uma do Fluminense.
Passado um certo tempo, tu recolheu os presentes que fazem barulho, teus brinquedos, e um a um subiu com eles para o quarto.
Deixou, no canto do sofá, as roupas.
Vendo-lhe subindo as escadas com teus brinquedos, segurando-os como tesouros, senti uma perto no coração.
Acabei de presenciar a primeira transição que a vida faz contigo.
Ano a ano, os presentes que chocalham vão sendo em menor número.
Você está virando um rapazinho, e os brinquedos vão começar a rarear.
Logo mais serão roupas, discos de música, livros, perfumes, cintos e gravatas.
E, quando chegar nas gravatas, a infância será apenas uma doce lembrança.
Filho, passou rápido não foi?
A vida passa muito rápido. Então, aprenda a degustá-la no momento, prestando bem atenção a tudo que lhe acontece.
Esteja presente!
Não se ligue no piloto automático.

Um dia desses você brincava com seu "amiguinho de pano", e alegrava-se com carrinhos que ganhava.

Durante a vida você ainda passará por muitas transições.

Aliás, creio que elas nunca findarão.

Até na idade adulta passamos por transições. Pelo ponto de mutação, no qual de um dia para a noite a roda gira, e assumimos outros papeis.

Apenas uma coisa te peço e recomendo.

Nunca deixe largado, num canto de seu coração, a alegria de viver de uma criança.

Não vire Homem sério e chato.

Daqueles cheios de razões, de verdades intocáveis, rabugentos, críticos e reclamões de tudo.
Deixe a criança em ti sobreviver, mesmo que em outras formas e situações.
Existem outras formas de brincar, na juventude e vida adulta, sem ser com brinquedos.
Você verá.
Quando você sair para dançar, será um prazer enorme, é um brincar.
Quando você viajar, será como brincar.
Quando você praticar algum esporte, participar de algum evento cultural, será como brincar.
Não se perca disso. Não vire Homem sério e ocupado, tão ocupado que perdeu a capacidade de poetizar a vida.
De ir num teatro, de participar de uma festa popular, de andar de pés descalços e de tomar mais sorvete do que sopa.
Não se perca da curiosidade da descoberta, aquela que faz com que aprendamos coisas novas, um valor muito presente na infância.
Não se perca da capacidade de refazer relações desgastadas, daquelas que ao brigar com os amiguinhos, 5 minutos depois já estão brincando juntos novamente, sem mágoas ou ressentimentos.
Não se perca da capacidade de se alegrar com o simples, como tantas vezes se alegrou ao subir em árvores.
Não se perca da criança que um dia habitou em você, será ela quem te dará forças para sair do lugar comum, o da estagnação, e ousar ser diferente.
Não tema passar por ridículo, se assim precisar, para defender os valores mais nobres da bondade, mansidão, doação e esperança.
Esteja sempre disposto a um recomeçar, a entrar no carro e partir para um lugar que nem sabe onde fica, apenas pelo prazer de passear com teu pai dirigindo.
E, nunca esqueça, no carro de tua vida quem dirige é o nosso Pai maior.
Portanto, não tema as transições!
Elas serão necessárias ao teu amadurecimento.
E,  por mais duras que sejam, sempre poderá guardar consigo e preservar, algo de bom da etapa anterior, como a felicidade de ser criança.
Nunca se perca dela! Mesmo que um dia tenha que passar pelo nó da gravata apertando, ainda assim, cultive um espírito livre e amoroso. Não tema passar recibo de "estranho", de bobo, de um cara que faz as coisas diferentes.
Seja normal, no que é preciso para sobreviver.
Quanto ao demais, seja você mesmo.
E, se ao passar por uma calçada, tiver uma fruta madura num pé de manga, e quiser tirá-la e chupar, ali mesmo, faça isso.
Não deixe envelhecer teus desejos, culpando alguém ou terceirizando os outros, pelo fato deles não terem virado realidade.
Em mutias ocasiões, será de você que a vida esperará mais respostas do que justificativas.
Coisas que as crianças são experts em fazer.
Sim, tua tia Marlene, irmã de mamãe, ligou perguntando o presente que quer. Ela vem no dia 16 te visitar, pois não pode vir no sábado.
Eu disse a ela: "Traga um brinquedo". rsrs
Tá me devendo esse!

Deixo-lhe com poesia.

Tempo de Travessia – Fernando Pessoa
“Há um tempo em que é preciso
abandonar as roupas usadas
Que já tem a forma do nosso corpo
E esquecer os nossos caminhos que
nos levam sempre aos mesmos lugares
É o tempo da travessia
E se não ousarmos fazê-la
Teremos ficado para sempre
À margem de nós mesmos”

Aprenda a Jogar Frescobol


Existem relacionamentos do tipo pingue-pongue, ou como chamamos agora após se tornar um esporte: Tênis de Mesa. No Tênis de Mesa, queremos que a bola, por nós lançada no campo do outro, chegue por lá o mais quadrada possível. De preferência, bem veloz e com efeito, para que ele não consiga defendê-la e perca a jogada.

Quem se relaciona com alguém assim, vai adoecendo com o tempo, de tanta bola quadrada que recebe.  De tanta falta de admiração e cuidado que não sente para consigo mesmo. A relação vira um palco de desconfianças, de ressentimentos, de nenhum cuidado ou admiração pelo outro. O esporte é procurar o que o outro tem que lhe falta. E não o que o outro tem que lhe sobra. Entende?

E o pior é quando ambos aprendem a jogar esse jogo, aí é que o ambiente fica de disputa de egos, daquelas que todos se enchem de razões.

Existem relacionamentos pingue-pongue entre gerentes e seus liderados, entre pastores e suas ovelhas, entre marido e mulher, pais e filhos, entre amigos, e, infelizmente, até em grupos sociais, esportivos,culturais, e religiosos. 

Então, meu caro amigo ou amiga que me ler, se você tiver alguém na sua vida com o qual jogue frescobol, ajoelhe-se e agradeça ao bom Pai.

Andam raros os jogos relacionais do tipo frescobol. Seja de que tipo de relacionamento você tenha, se ele for do tipo frescobol, ele é terapêutico, apoiador e amoroso.

Ele contribui para aumentar sua percepção de felicidade, ao liberar os hormônios e neurotransmissores do quarteto fantástico do bem-estar emocional que são: endorfinas, serotonina, dopamina e oxitocina.

Quem joga frescobol relacional não quer derrubar o outro. Quer vê-lo crescer. Quer o melhor para ele. E, se preciso for, renuncia a si mesmo para que a jogada chegue mais redonda do outro lado, esparramando-se no chão para salvar uma bola.

No frescobol relacional o importante não é vencer o outro, em insanas disputas de egos vazios,  e sim manter a bola em campo.

E, nesse espaço relacional,  cultiva-se o respeito, a amorosidade, o perdão, admiração e o cuidado pelos que chamamos de amigos.

Se eu trabalhasse com educação infanto-juvenil eu usaria o frescobol para ensinar o valor do outro em nosso viver.

Para ensinar, desde o início, a arte de relacionar-se, de forma apreciativa com o outro.

Ensinar o diálogo construtivo. Ensinar o respeito à quem classificamos de diferente.

Ensinar a perdoar e restaurar pontes. Ensinar a compartilhar, a admirar, a cuidar do outro.

Ensinar a pensar no nós.  Ensinar a comunicação não violenta e o cultivar da atitude apreciativa do outro.

Mas, falar desse negócio de frescobol relacional parece que soa para muitos como coisa utópica, nos dias de hoje.

Inúmeros estudos confirmam que os relacionamentos significativos são um três alicerces que sustentam a percepção de bem-estar com a vida.

O outros dois são o Sentido, nas suas expressões de próprio, engajamento e realização.

E as emoções positivas. 

O maior estudo psicológico transversal já feito, o Estudo Grant, que acompanhou o desenvolvimento emocional de pessoas por 50 anos, confirma que aqueles que têm relacionamentos bacanas, que lhes servem como fonte de apoio, de estímulo, de admiração, de cuidado, atravessam momentos de crises com muito mais valentia e resiliência do que os que se dizem sem nenhum relacionamento desse tipo, do que chamo de relacionamento frescobol.

Então, quem tem um desses pra chamar de seu, é hora de guardá-lo com carinho, de cultivá-lo, de não deixá-lo morrer, e de até fazer outros do mesmo naipe.

Garanto-lhes, valem ouro em pó!

E, quem aprendeu a jogar pingue-pongue com o outro, que tal desaprender?

Que sabe não é chegada a hora de desaprender esse hábito perverso e tirano, de se relacionar com o outro nessas bases pinguepongueanas, tão sem vida.

Cartas ao JG - Participe de Tudo! (Por Ricardo de Faria Barros, pai do João Gabriel, 8 anos).



Filho, domingo passado eu perambulava pela feira de São Sebastião-DF, trazendo para casa os pasteis de queijo de que tanto gosta. 

Aí, avistei esse cartaz da foto, que divulgava um torneio de Dominó.

Achei de uma pureza interiorana fantástica, algo que estamos perdendo.
Fiquei um tempo imaginando a cena. 

Imaginando as pessoas levando as torcidas, treinando, dizendo em casa que iriam participar da grande disputa de Dominó do ano.

Com direito ao primeiro prêmio de uma porca.

Já pensou se eu ganho? Ou tu? Como chegaremos carregando uma porca? rsrs

Outro dia, nossa família enluteceu, morreu minha tia, irmã de mamãe, a Tia Lila.
Achei tão linda a despedida de meu sobrinho, o Artur, postada no grupo da família.
Ele agradeceu a tia por ter-lhe ensinado a jogar Buraco, e por ter jogado com ele em muitas férias que ele passou em João Pessoa.

Entende o valor para o Artur daqueles momentos em que ele interagia com a família para jogar buraco?

Você deve estar pensando que o tema essa carta é sobre dominó, buraco, porca, etc. 

Não filho meu, não é!

O tema é sobre a capacidade do ser humano de se afiliar, de se vincular a algo.

E a dica dessa carta, filho meu, é para que você aprenda a se vincular. Seja para disputar um torneio de dominó. Seja para dançar uma quadrilha, seja para participar de um projeto social. Seja para cantar num coral. Seja para se congregar numa igreja. 

Se afilie a algo e se vincule a muitas pessoas.  Se for fazer mestrado, por exemplo, proponha ao teu grupo vários espaços fora da sala de aula para que se integrem e entre eles cresça a amizade.

No trabalho, seja daqueles que faz festa a cada aniversário que sempre convida o pessoal para um evento de final de semana.  

Seja um catalizador de encontros sociais, e que teu lar esteja sempre aberto aos amigos. 

Faça e cultive redes sociais.  Elas são muito importantes para nossa saúde mental.

Nós precisamos de vínculos sociais. Precisamos de ajuntamentos humanos, de pessoas que comunguem dos mesmos ideais, de pessoas com as quais construiremos nosso presente e vir a ser.

E, quanto mais diversificados teus grupos, melhor será para teu crescimento como ser humano.

Não se feche em apenas um grupo, pois correrá o risco de ficar dogmático, ou daqueles chatos que acham que só existe a verdade do grupo deles. Desprezando tudo que seja diferente.

Não seja assim. 

Eu ficarei mito feliz, de onde eu estiver te vendo, ao saber que você participa do grupo de  teatro, de vôlei, da igreja, o grupo dos escoteiros, o grupo do voluntariado.

Os grupos são espaços bacana para que neles exercitemos o valor do outro.

Trata-se de locais preciosos para dar e receber apoio, dar e receber perdão, dar e receber amor e cuidado. 

Portanto, filho meu, o pagamento dos R$ 40,00 para participar desse campeonato de Dominó, é infinitesimalmente menor do que a dose de oxitocina que será liberada no corpo de quem participará dele. Algo da dimensão de fazer algo prazeroso com o outro.

A oxitocina é um dos hormônios mais importantes para a construção do tecido social da humanidade.
Trata-se do hormônio do vínculo, que só é produzido em condições de confiança e respeito pelo outro, como as mães que amamentam sua cria.

A oxitocina reduz a presença da adrenalina e do cortisol, que em excesso nos envenenam e tiram o prazer dos dias, fazendo-nos focar exclusivamente nos problemas e preocupações.

Uma pena, filho meu, que os grupos estejam se tornando tão agressivos e cheios de arrogância, deixando de ser um lugar de saudável harmonização de diferentes.

Se um dia você estiver andando pela feira e achar um cartaz desse tipo, inscreva-se e participe.

Participe de tudo. 

A participação em espaços sociais nos quais exista amistosidade, cooperação e trocas recíprocas de afetos é uma das melhores coisas da vida. 

Aí você acorda. (Autor Ricardo de Faria Barros)


E sente aquele frio imenso. A cama lhe atrai como um imã. Mas, você tem atendimento logo cedo, e pula dela apressado.
Entra no banheiro e tem dificuldade de urinar, não consegue ver onde se escondeu o bingolim, encolhido pelo frio que ficou.
Olha para o chuveiro e lembra-se que precisa encarar um banho. Até pensou em usar o velho truque do perfume, mas o corpo está muito estragado, e precisa de um banho para rejuvenescer.
Abre o chuveiro e percebe que o frio da madrugada fez com que o aquecedor solar não conseguisse aquecer a água das tubulações. Então lembra-se de dar dez pulos embaixo da água gélida, enquanto lava as partes pudicas e axilas, no 9 pulo molha rapidamente o cabelo, e já deu. Chega de banho.
E aí você sai do chuveiro, mas parecendo um palito de picolé, e se olha no espelho.
De seu nariz vê saindo aqueles pelos, comuns em machos que envelhecem, de qualquer espécie.
Lembra-se então que comprou, lá nos camelôs, um “pra que isso?” que se propõe a cortar os pelos do nariz.
Todo orgulhoso, da tecnologia disponível, liga o “pra que isso?” e ele não funciona. A pilha só tinha carga para a demonstração do vendedor.
Aí você olha para o bingolin desaparecido, olha para o chuveiro gelado, olha para os pelinhos que agora acenam para você, vitoriosos, e pensa consigo: “hoje era dia de ficar na cama!”
Bate o rosto com as palmas das mãos, e lembra-se que um bom café cura tudo.
Então, refeito das frustrações, mas ainda com frio na alma, e querendo jogar o aparelho ladeira abaixo, bota uma roupa quentinha, e lembra-se que é a hora do café na cozinha.
Pensa, com suas papilas gustativas, Cida já chegou, com certeza”
Então, sai do banheiro e cruza com a esposa, que carrega o pequeno insone para a escola.
Respira fundo, abre um sorrisão e profere para ela o seu melhor bom dia.
Ela olha para você, com cara de “Bom dia por que?”, e você desiste de dar-lhe um abraço, com medo dos espinhos. rsrs
Aí, numa fração de segundos, lembra-se que no dia anterior ela pediu-lhe ajuda para uma carona até a concessionária, e você falou que não podia ajuda-la, dado que seria na mesma hora de uma palestra no Sistel-DF.
Estava explicado o “Bom Dia, por que?”
Então, refeito do chuveiro frio, dos pelos no nariz, do abraço não dado, você dirige-se à cozinha, ávido por aquele café delicioso.
Na porta da cozinha, Cida lhe espera pelo lado de fora.
Você estranha o fato, abre a porta, e ela lhe diz que não fez café ainda, dado que sua mãe trancou a porta por dentro, com medo de ladrão. Ela não conseguiu acessar a cozinha.
Aí você se lembra que tomou banho frio, que o pelos do nariz ficaram tirando onda de sua cara, que não teve um bom dia sequer e agora nem café tem para afogar o frio na alma.
Cida lhe diz que em dez minutos o café estará servido, e “bem gostoso”.
Pensa em aproveitar o tempo de preparo do café, para atualizar as mensagens do celular. E percebe que a bateria arriou, pois não deixou carregando o celular.
Celular é um troço que sempre está sem bateria.
Procura o carregador, o único que dá na traseira do celular modernoso que comprou, e não acha onde a colocou.
Aí pensa, que dia!
O chuveiro gelado, o pelo no nariz, o bom dia sem o bom, o café atrasado, e o celular mortim...
Para matar o tempo, antes do café, já que num tem celular para distrair, lembra-se da obra de arte matinal que sempre faz.
Então, pega um bom livro de psicologia e dirige-se para o banheiro do escritório.
Senta-se qual rei e se dar o direito de um daqueles n. 2 memoráveis, com tempo para a leitura de duas páginas do livro.
Agora bem relaxado, você levanta-se, olha para sua obra de arte, e dá descarga.
Aí, percebe que o conserto que o bombeiro hidráulico fez, no dia anterior, na bacia sanitária, não funcionou.
A sua merda dá cambalhotas, rodopia, mas não desce tubo adentro.
E o vaso sanitário fica mais parecendo um aquário de merda, com peixinhos circulando nela livremente, desafiando o redemoinho de água.
E, aquela merda posso sentir, está quase alegre, sentindo-se tão vitoriosa quanto os pelos de meu nariz. Do banheiro ouve sua mãe dizendo-lhe que está fazendo as preces para “as almas dos vaqueiros” para achar o carregador do celular.
E pensa que está dando trabalho até às almas. Respira fundo, e por falar em nariz, sente o aroma do café entrando na vida, vindo da cozinha.
Refeito do desgosto de ver merda boiando, dirige-se à cozinha.
Chegando lá, vê que seus pais de 80 e 78 anos, que vieram de Campina Grande-PB lhe visitar, já estão sentados degustando o café.
Sua mãe pergunta-lhe se comprou o mamão dela.
Ai, você todo orgulhoso de ter se lembrando daquilo, no dia anterior, diz que comprou e pede à Cida que ara o mamão.
Cida abre o mamão e solta um: “Sr. Ricardo, o mamão só está maduro por fora, por dentro está verdinho, verdinho, não dá para comer”.
Aí, um turbilhão de pensamentos negativos assolam teu ser, como que descessem rio abaixo: lembra-se do frio do chuveiro, dos pelos de velho, do abraço sem receber, do café atrasado, do celular mortim, do carregador desaparecido, do conserto que não consertou, da merda saltitante e do mamão comprado errado.
Mas, você é um ninja emocional, e se recupera logo, sem deixar transparecer para sua mãe o seu estado de frustração.
Para disfarçar o vexame de ter comprado o mamão errado, levanta-se, abre a janela da cozinha e respira fundo.
Dali, contempla o horizonte e ver o sol nascendo, em mil tons de laranja à carmim.
E uma brisa Aracati entra pela janela e areja teu ser.
Você respira fundo, agradece a Deus pela manhã que nasce, e pelos seus pais que tomam café contigo.
Fecha a janela, para que a friagem não atinja seus pais, volta-se para eles que alegres comem do que tem à mesa, e não reclamam.
Sua mãe até diz que não queria mamãe mesmo.
Mães fazem isso, renunciam a elas mesmas para que os filhos sintam-se melhores.
Aí você quase não se lembra mais:
Do banho frio, dos pelos rebeldes, do bom dia sem dia, do atraso do café, do celular mortim, do carregador desaparecido, da merda peixinho, do mamão verde e decide olhar para o que sobra no dia, e não para o que ele esteve em falta para contigo.
Olha a sobra de ter uma casa, de ter pais, de ter uma Cida, de ter um café, de ter água, de ter uma janela para as montanhas, de conseguir fazer a digestão, de estar vivo, e escolhe racionalmente fechar as janelas das frustrações matinais. Zerar as faturas delas.
Afinal, o que é a vida senão as escolhas que nós fazemos daquilo que ela faz conosco.
Aí você esquece de todos os aborreceres cotidianos, seletivamente pinçados naquela manhã, e olha para aquela mesa da cozinha.
Ali, tomando café, estão seus pais. Uma cena cada vez mais rara, e que com o avanço da idade é mais finita a cada dia.
Aí você serve para sua a mamãe um cafezinho com leite, serve para seu papai um pão do tipo bisnaguinha com manteiga.
Então ida adentra na cozinha dizendo que achou o carregador.
Sua mãe agradece aos vaqueiros.
Você sorri. E mais uma vez agradece estar aprendendo para que lado olhar a vida, e quais janelas deverão ser fechadas, antes que contaminem todo o bom, belo e virtuoso, com seu cheiro fétido, que ainda lhe resta.
Beija seus pais, despede-se de Cida, e segue para a palestra Gestão das Emoções e Relacionamento Interpessoal, agora mais convicto ainda do que falará!
Aí você entra no carro, começa a dirigir, e uma borboleta azul passa à sua frente. Você a vê e a ama, sentido uma profunda gratidão por ela existir e se fazer presente, nas manhãs de teu viver, raríssima que é.
E o amor aquece todo seu ser.
E, ao dirigir, medita: o que é a vida senão as escolhas que fazemos, as janelas que fechamos, junto com suas renuncias, e o lado que decidimos olhar, considerar, valorizar e carregar conosco? Escolhendo seletivamente e racionalmente o ser mais feliz, apesar da juntada de cacos diária, ao prosseguir esperançoso pela nossa jornada peregrina.
Aí você acorda, e num belo dia percebe que a vida é breve demais para ser pequena.

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