Os Sete Hábitos da Infelicidade - Vivendo no Palco

"Não conseguir lidar com a falta de sucesso".  "Após o fracasso nas olimpíadas tive depressão" "Acho que todo mundo se preocupa muito com minha vida. Chego no trabalho e noto os olhares". "Preciso de agitação, as coisas andam muito paradas".

Esse é um hábito para a infelicidade que vem do atuar, nos diversos palcos da vida.
Muitos líderes sofrem disso e arruínam sua vida ao saírem do palco, de qualquer que seja o palco.
Fica-se refém de admiração, de estímulos, de aceitação e de se sentir notado. A infelicidade vem de não se repetir com a mesma intensidade vivências prazerosas passadas, ou a se cobrar sempre mais e mais e mais. em alta rotação emocional, ou intensidade, a vida vira um show contínuo, e fica-se a espera - após cada atuação, dos reconhecimentos e aplausos.
Escravo do sucesso, status e do personagem que criou para nele viver, habitando no palco.
O palco é pouco acostumado com vaias.
Com não se fazer notado. Com silêncios após o show.
O palco é lugar de vitórias, de brilho, de realização.
O problema é que não se vive no palco.
Na vida temos os vales, os momentos de frustração, de ostracismo, de não-luz e palmas. E até de esquecimento.
Quem se acostuma no palco, quando passa a viver nos bastidores, no escuro das coxias, ou até quando não é mais convidado a atuar, morre um pouco cada dia.
Uso o palco como uma metáfora.
Têm família-palco, na sua relação com os filhos, noras e genros. Tudo tem que girar em torno delas nelas. Tem empresas-palco na sua relação com os funcionários.
Têm igrejas-palco. Têm trabalhos-palco.
Têm até relacionamentos-palco.
No palco não há lugar para derrotas. Para limites e perdas.
No palco tem-se a falsa sensação de onipotência.
De que as cosias sempre darão certo, e fica-se embriagado com as sensações derivadas de estar sempre no limite, superando-se.
Viver no palco é viver sempre em alta-rotação. Não se descansa no palco.
Uma vida repleta de exposição, com carência de estímulos e reconhecimentos. Como se a vida estivesse sempre lhe devendo pedido os "pedido de bis".
Viver querendo ser notado, ou achar que é tão importante a ponto de quando chega no trabalho as pessoas pararem o que estão fazendo para notarem sua presença é uma fantasia de dominação, de poder.
A mesma pessoa que cria a fantasia, cria os sofreres pela sua não realização.
Quem vive no palco a alegria é sempre pela metade.
Sempre escuta a vozinha: "foi bom, mas poderia ter sido melhor". nunca contenta-se por inteiro e de forma plena com o que tem, afinal, o show da vida exige dele sempre mais.
Quer ser modelo para todos, vive de satisfações, e precisa de colo a  todo instante.
Adora encenar papéis mórbidos para com eles despertar aceitação, compaixão e cuidados.
Você liga para uma pessoa com esse curso de tristeza e ela debulha todos os problemas em você:
o filho que não ligou, o tempo que fechou, o vizinho que a observa, a grana que mingou, a saúde que esculhambou.
É o teatro da dor. Não que não exista. Apenas é superdimensionada, dramatizada ao extremo para receber migalhas de afetos. Depressões de origem palco são comuns em tempos narcisistas que vivemos, e de forte apelo material.
Cantores, padres, atletas, líderes corporativos... ninguém escapa do preço da fama. No primeiro espetáculo que não venda ingressos, ou que a plateia o vaie, o mundo cai. A casa cai.

Costumo dizer a tipos assim: saia do palco. Pare de querer representar algo que não é, só para poder ser aceito. Trabalhe essa necessidade de ser amado, estimado, adorado, trabalhe melhor essa vaidade do eu.

Alguém nem vai está aí pra você, e daí? Alguém vai lhe vaiar, e daí.

As pessoas têm direito a não gostarem de uma ou outra cena de teu viver.

Ninguém é unanimidade, alguém não gostará de seus almoços domingueiros, a vida pede outros palcos, cenas, peças, personagens, e que tal parar de se dar tanta importância?
Permitindo-se ser plateia, vez ou outra? Permitindo-se ser vagão, no lugar da locomotiva de seu lar? Permitindo-se comer da comida dos outros familiares, no lugar de sempre ser quem os recebe? Permitir-se admirar o outro, no lugar de cultuar sua própria admiração.
Que tal sair da posição de ser adorado, quase como um deus?
Da posição da perfeição, dos rígidos padrões de comportamentos, do não aceitar os erros e falhas cometidos, seja por você, seja pelos outros.
Que tal ser feliz no lugar que já chegou?
Tem gente que vive na provisoriedade. Sempre insatisfeito, sempre em dívida consigo mesmo, com a vida. Sempre, após o show da vida, no lugar de celebrá-lo, já pensando no próximo show, nos "fundamentos que precisa melhorar para a próxima partida".
Sofrem de rotação gravitacional do eu. Estão sempre em espera de admiração, e tudo gira em torno delas mesmas.
Para a felicidade plena faz-se necessário desaprender esse hábito de vida-palco.
E descer ao mundo dos mortais, desenvolver a humildade, sem ser subserviente.
Cultivar um estilo de vida mais simples, se tanto consumo, vaidade ou ostentação.
Permitir-se a pastel de feira, como falo.
Deixar de se ver como centro das atenções, saindo dos holofotes do palco do viver, e curtindo a plateia, os bastidores, ou as coxias. Romper as algemas do palco, feitas de orgulho e vaidade.
Deixar de ser escravo de um papel, personagem e única peça, por mais estímulos que lhe traga, abrindo-se à outras possibilidades de si mesmo, ainda pouco exploradas.

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