A Teia da Sustentabilidade Amorosa - O Apreço

No quarto e último texto da série A Sustentabilidade do Amor,
vou conversar contigo sobre o Apreço.
A Viga do Apreço.
Se você não leu os textos anteriores (o que eu recomendo) 
comparo a sustentabilidade do amor a uma teia,
como a da foto acima,
da qual dela projetam-se de forma radial
quatro linhas mais grossas,
quase como se fossem umas vigas.
A primeira viga amorosa é o Apego.
Depois tem a do AfetoAfago e o Apreço.

Nesse texto falarei sobre a viga do Apreço.

Voltando à caverna ancestral aonde um dia habitamos. O apego é a caverna; o afeto é o olhar juntos o crepitar das chamas; o afago é não deixar a fogueira morrer, indo buscar lenha para abastecê-la.

E o que seria o amor de apreço?

Qual o papel na sustentabilidade da teia amorosa que a viga do Apreço possui?

Vou te convidar a retornar pra caverna ancestral e ali refletirei sobre o apreço.

O apreço é a identificação com o que temos como valor. 

Os valores daquele povo nômade eram a caça, o fogo, a arte, as lutas pela sobrevivência.

O apreço dava a liga àquele povo, criava identidades e idiossincrasias.

Amor de Apreço é o mesmo de amor de ágape. Amor à humanidade, ao que nos faz irmãos e gente que comunga de valores parecidos.

Temos apreço por todo aquele que possui um repositório de valores compartilhados conosco, e que nos fazem sentido.

Na caverna, todo aquele que se dispunha a fazer o fogo da noite era objeto de apreço. 

Todo aquele que substituía o pintor ausente ou falecido, idem.

O apreço é a consideração e estima que temos por algo ou alguém. Você pode nunca ter visto uma pessoa, nunca ter convivido com ela, mas ao saber do que ela faz, e caso bata com seu mundo de valores, você nutrirá um apreço por ela.

Mesmo que não a conheça e que more em outro país.

Apreço tece redes, pontes entre seres humanos, que se sentem solidários entre si.

São cúmplices de gostares, quereres, prazeres. 

São irmãos universais.

Este é o amor de apreço.

Amor de compaixão, de fraternidade, de empatia para o genuinamente humano, em todos os cantos do planeta, tão parecido conosco.

Quando nos falta apreço começamos em embrutecer. A perder nosso senso de coletividade, de comunhão, de identidade planetária.

Uma pena que muitos perderam o apreço pela natureza.

Ou, pena maior, pelo o outro.

O apreço torna pequena qualquer distancia, não existe o longe para quem aprecia e compartilha dos mesmos ideais.

Apreço é valor. Em que botamos valor nas coisas que nos cerca.

O que valorizamos e por ela lutamos, e caso necessário, até morreremos.

Onde habita os tesouros de nosso coração, aí habita nossos apreços.

Pessoas para as quais nutrimos apreço temos com elas uma imediata identificação. Ela pertence à nossa tribo, muito mais que cultural, à nossa tribo existencial - que não tem haver com geografia ou segregação cultural.

Isso não é apreço. É egoismo, quando nos protegemos em nossa própria cultura para nos afastar das outras. 

O apreço é uma viga que nos relacionamentos estabelece as pontes de significado, uns com os outros.

Num casal quando falta apreço, sobra cobranças, mágoas recíprocas.
O outro deixa de ser apreciado, valorizado, admirado.
Na vida corporativa quando falta apreço, sobre insatisfação com o trabalho.

O apreço é o que nos faz caminhar juntos nas manhãs vindouras em busca de um outro mundo vindouro.

O apreço é o que nos faz amar o outro, só por ser de nossa mesma espécie, mesmo que o tenhamos como "diferente" de nós mesmos.

Assim sendo, o apreço elimina as diferenças, preconceitos de qualquer espécie, nos torna mais humildes e abertos ao outro.

Na hierarquia das necessidades de Maslow, no meu entender, o apreço é o último de grau na evolução do amor.

É o degrau do se sentir realizado consigo mesmo, auto-motivado e realizado. Pronto para diariamente fazer acontecer novas realidades - transformando-as por apreço, no lugar de ficar só reclamando da situação; ou na posição de vítima.

Seres que mudam-se a si mesmo, da forma pela qual reagem ao que lhes fazem infelizes.

Ou mudam ao que lhes incomodam e lhes entristecem.

Ou mudam-se para longe daquilo que os diminui, partem em busca de novas e desconhecidas possibilidades do ser.

Das vigas da teia da sustentabilidade do amor, quando a do apreço está corroída, enfraquecida, gasta, a relação entra no modo "piloto automático".

Há espaço para acúmulo de ódio, mágoas. 
Ressentimentos e resignações tomam o lugar do antes admiração e valor que atribuíamos ao outro.

Um dia cheguei para dar aulas e meus alunos não estavam na classe. Esperei até as 20hrs quando um deles chegou e disse-me que havia sido mudado a sala.

Caminhei com ele até a outra sala.

Ali, esperava-me todos em festa, comemorando meu aniversário.

Recebi uma overdose de apreço. Ele valorizaram o esforço em conduzi-los na jornada pedagógica e demostraram sua estima e consideração para com seu mestre.

Outro dia, reclamei que ao escrever meus textos as muriçocas me comiam vivo.

Uma amiga mandou uma mensagem: "Experimente um repelente."
Uma mensagem tão simples, nela continha todo o apreço a mim dedicado.
Senti que meus textos eram importantes para ela.
Havia identificações.
Que ela os apreciava a ponto de me fornecer uma dica, em empatia, de como diminuir o incômodo com esses chatos pernilongos.

A viga do apreço tem sobre ela uma mística. Ela, caso exista, consegue ir fortalecendo as do Afago e do Afeto. Fazendo-as que se expressem de formas mais eficazes. 
Ou seja, é como se ela tivesse em si as células-tronco  da amorosidade.

O apreço constrói relações, aplaina conflitos, alimenta gestos de afago.

Só temos afeto e afago por alguém para com o qual tenhamos apreço.

Assim, embora seja a última dos pilares, ao exigir um profundo autoconhecimento para quem o tem, o apreço e o apego são as bases de qualquer relacionamento sustentável.

Em qualquer nível e instituição de relacionamento.

Os demais, são plus, são bônus, crédito que só os mais loucos e apaixonados pela vida, por algo e pelo outro conseguirão descobrir e expressar: falo do afeto e do afago.

Se você ainda tem apreço, nem tudo está perdido. No mínimo, amigos serão.

Agora, quando o apreço se vai e ainda assim eternizam-se relações, a honra sofre, a dignidade idem.

Pessoas com crise de dignidade e honra, além da ética, dificilmente possuem apreço por alguém ou algo, nem pelos seus pares.

Para ter amor de apreço, de ágape, tem que amar a humanidade na sua comunhão coletiva de significados.

Tem que ter um olhar de bondade, de mansidão, de justiça e paz sobre todos os povos.

Apreço exige maturidade do ser. Exige uma postura sábia, integradora de valores comuns.

Apreço de valores é algo em extinção nos tempos em que tudo é valorado pelo o preço mercantil que apresenta.

Eu diria, que na teia da foto acima, o apreço age como um GPS interior orientando a construção e concertação da teias, junto a outras teias, criando harmonias e suscitando a aprende-essência da coletivivência.

Apreço são difíceis em tempos de narciscismo, de ganância, egoismo e individualismo sociais. 

Pois, apara apreciar algo, valorar alguém ou algo (não pense em coisas materiais e sim em causas universais, valores) temos que deixar o outro ou uma causa em nós fazer morada.
E, como se identificar com algo quem em nós não permitimos que habite?

Como apreciar um jardim no outro se em nós mesmos só existe terra árida, sem formosura e graça.

Um dias em nosso país os jovens foram às ruas, exigirem novos tempos na política.

Tive apreço por eles. 

Entendeu agora o que é apreço?

É compartilha dos mesmos ideais, sonhos, valores, sentir-se parte de algo maior, conectando à nave mãe Terra.

Ter apreço é encontrar pontos de convergências entre seres que se embelezam,ao se perceberem como incompletos - necessários que são dos outros para se edificarem e construírem como autônomos. 

A autonomia do ser, condição para o apreço, não é a compreensão que somos independentes na nossa caminhada existencial.

A autonomia que o apreço fornece é de outra grandeza. E, é justamente o contrário, é saber o quão belos e importantes ao nosso viver, são aqueles que conosco desfrutam de um mesmo universo de valores e filosofias de vida, fazendo que em cada um de nós surja um infinito, não particular como diz a canção, mas coletivo de outros eu. 

E, junto a eles nunca estaremos sozinhos, e enfrentaremos todas as ameaças.

Esse é o amor de apreço, de ágape, de afiliação e identificação com uma pessoa, causa, instituição ou valor.

Apreciemos o outro que habita em nós mesmo, e o quanto de nós habita neles.

Lembre-se a viga do Apreço é mística. Ao alimentá-la ela crescerá e fortalecerá, quase que num passe de mágica, o afago e afeto para com toda a humanidade, tornando o planeta sua caverna e o mundo sua tribo.

3 comentários:

  1. Por fim o apreço...reconhecer o valor das pessoas em nossa vida e demonstrar isso por elas, seja em um gesto de carinho ou em uma bronca, chamando a pra realidade.

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