A Teia da Sustentabilidade Amorosa - O Afeto



No segundo texto da série, a Sustentabilidade do Amor, vou conversar contigo sobre o Afeto. 
A Viga do Afeto. 
Se você não leu o texto anterior (que eu recomendo) comparo a sustentabilidade do amor a uma teia,
como a da foto acima,
da qual dela projetam-se de forma radial 
quatro linhas mais grossas,
quase como se fossem umas vigas. 

A primeira viga amorosa é o Apego.
Depois tem a do Afeto, Afago e o Apreço.

Nesse texto falarei sobre a viga do Afeto.

Afeto não se define. Afeto se sente por alguém ou algo. Imagine o amor de Apego que constrói a gruta para morar, que escolhe uma caverna para fazer a toca.  
Afeto é diferente de posse. Posse é apego.
O amor de afeto, acende uma fogueira e chama o outro para sentar juntos e apreciá-la. 
Entendeu?
Enquanto no primeiro somos movidos pelas coisas práticas, racionais e objetivas, do tipo: encontrar uma gruta para morar em segurança.
No segundo, nos invade a poesia. É o amor da estética, do belo.
De gostar de ver um filme juntos, de caminhar no parque.
Da cumplicidade e companhia do outro.
É o amor que se alegra ao vê-lo, tornando-se um em dois, sem perder o um. 
Entende? Agora foi mais difícil não é?
É que não acredito em caras metades. E sim em metades inteiras que juntas formam novas caras.
Quando dizemos que temos afeto por alguém, afeição, é o mesmo que dizer que torcemos por ele. Que cuidamos dele. Que podemos dormir despidos ao seu lado, sem temer ser seduzido, caso não queiramos e ela idem, é lógico!
Que podemos receber um toque dele, abraça-lo, deitar nosso mói de ossos cansados em seu colo.
Afeto é cuidado, é atenção, é generosidade gratuita em sentir.
Continuando com a analogia da Hierarquia das Necessidades Humanas de Maslow, quando ele refere-se aos fatores motivacionais, eu diria que a Viga do Afeto, na teia da sustentabilidade amorosa equivale ao terceiro degrau da pirâmide pedagogicamente proposta por aquele autor.
A Social. 
O afeto nos irmaniza na tribo. Cria comunhões. O afeto nos faz dançar juntos, orar juntos, ficar e comer juntos com quem estimamos.
Vá em qualquer festa popular e ali verá afeto aos montes. 
Sabemos rapidamente por quem não nutrimos, ainda, o afeto. Ele nos repele.
O afeto é aquele sentimento que te faz no meio da tarde mandar uma mensagem para o outro perguntando como ele vai. Ou, alegrando-se ao receber um email, telefone, abraço o que quer que seja do outro. 
O afeto preocupa-se em tornar-se e fazer-se presente, mesmo que seja por sinais de fumaça ou batendo
A viga do afeto é a do belo, do estético, da poesia, dos encantamentos.
O outro nos eleva, nos mobiliza a ver cores, sentir aromas e degustar sabores nunca pensados.
O afeto nos transcende a ser mais, no outro.
Chefes afetuosos acreditam no potencial de seus funcionários, mesmo quando esses não cumprem metas ou erram.
Pais afetuosos abraçam em abraços de séculos seus filhos, e quando faltarem os abraços, num simples olhar todo a eternidade de um coração afetuoso se derrama sobre o amado.
Casais afetuosos admiram as latejoulas (strass) que ainda restam naquilo que já foram. 
Não ficam idealizando o que poderiam vir-a-ser, ou se remoendo expectativas frustradas.
Não cultuam e sofrem com a imagem idealizada do outro. 
Amam o agora. Admiram-no no que é, completo e incompleto. 
Curte o que curtem, compartilham o que compartilham, comentam o que postam, em temos de amores de redes sociais.
Afeto é interesse.  É tanto quando algo dá errado com aquilo para com o qual temos afeto dizemos que fomos afetados. Afeto é sexualidade transcendental. /Para além das ginásticas eróticas, do sexo pelo sexo, e culto às formas milimetricamente talhadas para agradar ao outro.
Afeto é intimidade, eroticidade, entrega livre e sem falsas considerações ao outro.
Afeto é beleza, e das melhores, da interior. 
O afeto malha nosso ser, na Academia do Ser, para que ele venham a ter menos celulites interiores.
Afeto cicatriza dores, horrores, mal entendidos. O afeto liberta e cura.
Mesmo inimigos não conseguem reagir, defenderem-se, de um gesto de afeto verdadeiro, feito por deles em busca da reconciliação. 
Não temos como elaborar uma defesa racional ao afeto.
Somos condenados a sorvê-lo com volúpia em nosso ser, e isso nos faz melhores.
O afeto é energia, uma energia dinâmica que nos move.
Ou seja, aquilo no tira do lugar em que estamos. Nos mobiliza, causa em nós um sentir, uma empatia e solidariedade.
O afeto dado, ou percebido como recebido, é o que faz crescer a autoestima.
Ou, na mesma maneira, decrescê-la.
Somos seres de afeto, embora nossas escolas sociais nos ensinem a não doar carinhos.
A sermos rudes e auto-suficientes. uma pena! 
Vamos aprendendo a nos bastar sozinhos. A só querer receber, e afeto é relação, é troca.
Podemos ter afeto por grupos sociais dos quais fazemos parte e até por pessoas que não as conhecemos presencialmente. Afeto é um comungar de olhares sobre o mesmo amanhecer da vida, porém visto sempre com olhos diferentes - que longe de se distanciarem ou entrarem em conflito, se respeitam e se complementam.
A Viga do Afeto é a que nos faz ser quem nem nós sabemos que podemos ser, quando o outro, com o Toque de Midas, transforma nosso ser interior, duro tal ferro, em ouro que reluz e é precioso para quem o porta.
Nutrir afeto por alguém ou algo é um tesouro.  
Uma relação a dois afetuosa, mesmo que falte a viga do Apego, se mantém.
Pois, o afeto ilude a mesmice das coisas, a rotina de corações adormecidos, e instaura um tempo de delicadezas, de luz, prazeres, e sentimentos de completude e paz, para além das posses materiais e segurança que o costume do apego trazem.

O afeto eterniza o olhar, o gesto, a presença do outro, mesmo que ausente.
Na verdade o afeto é Eros. E Eros engana o Cronos da Razão. Eros do afeto subverte certezas sagradas e realidades ditas imutáveis.

Diria que o afeto é a primeira construção do coletivo humano, antes mesmo da linguagem, e que nos difere de seres irracionais, da brutalidade da luta pela sobrevivência diária. 
Afeto é uma pequena flor na penteadeira de um quarto de pensão de V categoria.
Afeto é o simbólico, o intangível, o místico e mágico que nos transforma em deuses.
Para encerrar, minha melhor definição de afeto foi a mensagem que li de um homem que amava escondido, a sua agora falecida. Ele a deixou registrada nos ladrilhos de um banheiro de cemitério. 
Escrita dentro de um coração, toscamente desenhando com um batom arranjando sabe onde, a mensagem dizia: "Pitchula, estive aqui para te ver, viu?"


(Próximo texto da série: O Amor de Afago.



  


2 comentários:

  1. a primeira parte ja diz tudo..."Afeto não se define. Afeto se sente..."

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Afeto nos afeta, nos anima e ser melhores, quem o sente ou expressa sabe.

      Excluir

Seu comentário é uma honra.

Crônicas Anteriores