Assédio Moral Lateral


Falta correção de ortografia. Escrevi num vomitar existencial.
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Para entender o assédio lateral, entre colegas de mesmo nível, precisamos revisar os conceitos de poder. Vale a leitura deste material.
http://www.facef.br/facefpesquisa/2005/nr1/2_DINIZ_LIMONGI.pdf
Assédio moral envolve o uso indevido e abuso de poder.

Existem em resumo quatro vetores de poder:

- Coercitivo (institucional, hierarquizado, de supervisão/gestão).

- De Referência (de pessoa mais experiente, mais antiga, mais conhecedora de algo).

- Influência (o exercido sobre nós, oriundo de quem admiramos e nos identificamos).

- Regulatório (o que é mandatário legal, previsto em regulamentos e normativos).

Destes vetores, os que o uso inadequado poderá derivar em assédio moral são os dois primeiros.
Hoje, a refletir sobre o menos escrito e detalhado, o lateral. O do Tigrão. Personagem que chamarei o assediador lateral, entre pares.
Depois escrevo sobre o Buana, personagem a quem chamarei o gerente assediador.
O assédio lateral é muito difícil de ser caracterizado, mais das vezes relativizado e banalizado quando a vítima se declara assediada.
Todo mundo diz, isto é coisa de trabalho. Conflitos sempre acontecerão. O problema é o relacionamento interpessoal, etc., etc.
E o Tigrão vai se safando.
O Tigrão é aquele colega que todos nós já topamos com ele um dia.

Que o gerente vê suas atitudes, mas não quer mexer com ele.

O Tigrão tem um tipo de poder chamado de referência. Seja por antiguidade (conhecedor exímio da cultura da agência e cidade), seja por conhecimento técnico acumulado, o Tigrão tem algo pra botar na mesa.

Ele habita praticamente todos os lugares de trabalho, bancários ou não.

Perseguem os novatos, mais tímidos, os mais simples, mesmo que do nível dele.
Caçoam, sonegam informações, espalham boatos, agem com violência verbal.
Eles tem tanto medo de serem passados para trás, pelo novo que acontece na figurado do outro perseguido, que psicanaliticamente falando reagem contra-transferindo, devolvem pra vítima suas próprias frustrações, acomodando nela coisas que não consegue resolver na sua própria psiquê. Passa por inveja, mágoas antigas, ciúmes, vivências passadas mal-resolvidas que o outro desperta nele.

Em vez de fazer terapia, ele faz brutaria com o outro. É assim que ele sobrevive, sempre à custa de sugar a essência do outro. Um vampiro emocio-organizacional.

Uma pessoa insalubre e toxica. Mas que tem sua plateia e sua guarida organizacional.

Como não há hierarquia na relação assediador-assediado lateral, o Tigrão vale-se disto para deitar e rolar.
Sabe que não poderá ser "punido", e que o assunto ficará restrito às rodas mais próximas, e aos ecossistemas organizacionais nos quais impera.

Caberia aos gestores bons, coisa mais difícil nas organizações do que achar dinheiro na rua, intervir neste ambiente de trabalho onde impera os tigrões e punir estas situações de assédio. Harmonizando ambientes de trabalho.

Mas, no geral eles não o fazem. Para eles é até cômodo ter tigrões, pois vão desviando o foco de sua gestão. O pior, muitas das vezes age pelos Tigrões. E até os incentiva.

Uma cena do Tigrão.

Funci novo pega o telefone, liga para o Tigrão. Tem uma dúvida que só o Tigrão sabe resolver.
No meio do telefonema o funci novo tosse. O Tigrão diz em voz alta, para todos ouvi-lo, "que está sendo desrespeitado, pois o novato não o chamou de senhor". E desliga o telefone.

Noutra cena o Tigrão afirma, com voz das selvas, "que o novato só está fazendo serviço errado e atrasando o trabalho."

Todos ao redor riem. Alguns de medo, pois também já foram vítimas ou ainda o são do Tigrão. E é melhor não provocá-lo, ou tê-lo como "amigo".

Muitos falam que o temem, mas como são do mesmo nível, nada podem fazer.

Muitos se aliam ao Tigrão para receberem uma falsa sensação de proteção. Igual à relação traficante x alguns membros da comunidade.

Na selva corporativa, diariamente o Tigrão escolhe um cristo para achincalhar, perseguir, maltratar.
Quando o bicho pega pra seu lado, muitos o defendem. (Veja livro Pedagogia do Opressor.)
“Ele está cansado."
"Ele já deu muito por isto aqui.”
“Ele é assim mesmo.".
“No fundo ele é bom."
“Ele é o melhor vendedor"
“Ele é peixe do gerente, do cliente, de um político, maçom, rotariano, da igreja”.
Na frente do gerente é uma ovelha.
Mas, até o gerente sabe que não é. Ou é surdo, ou cego.
O Tigrão é um doente, um psicopata, um mal-resolvido. Um neurótico, um perseguidor, um aprendiz-de-autoritário.
O Tigrão está sempre de mal com a vida, e pronto a destilar seu veneno contra sua vítima do mês.
Um Tigrão num local de trabalho é suficiente para empestar todo o ar que se respira, e acabar com qualquer iniciativa de melhoria do clima de trabalho.
Por que há tantos Tigrões? Por que não há gestão nos locais de trabalho.
Não se acompanha, dialoga, conversa. Não há tempo para isso.

Não se faz a avaliação individual, o gestor não escuta sua base, não procura saber o que de fato ocorre no "submundo" do crime.

Metas, metas, metas, prazos curtos, poucos recursos.
Não está nada fácil a vida de um gerente. Embora haja gerentes que mesmo diante deste cenário fazem gestão de suas equipes. Raros, quais moedas achadas no chão, mas tenho vários relatos neste sentido.

E, pra você que ler este texto, tem uma forma de se livrar do Tigrão. Enfrentá-lo e mandá-lo catar coquinho. No fundo ele é um bobão-frágil. Que se fortalece te espezinhando, pois sua autoestima chegou à zero. Só se nutre de estima, sugando o outro, um vampiro emocio-organizacional.

Cuidado. Esta forma poderá mobilizar toda a rede de apoio que ele mantém, sob seu jugo de dominação a voltar-se contra você. Ele vai posar de vítima e vai articular muitos contra você.

Então ensino a segunda forma. Esta você vai fazendo enquanto não adquire sua própria rede de defensores. Para que na hora que chute nos ovos do Tigrão tenha gente que lhe apoie. A segunda forma é evitar ao máximo o contato com ele. Você não vai mudá-lo. E a terceira forma, a melhor de todas, mude a você mesmo. Se não podemos mudar uma realidade, mudamos a forma pela qual a compreendemos. Por exemplo, não posso mudar meu coração, que dispara a 170 vez por outra e não sinto nada, então não fico procurando razão para ser infeliz, comprei um polar que disparará quando ele passar de 140 e irei ao hospital. Adaptei-me a uma situação limite que não posso modificá-la. É congênita.

Pergunte-se porque o Tigrão te faz tanto mal. Por que o que ele te diz, ou como ele age contigo mexe tanto contigo. Sabendo que ele é um merda, releve. No limite, ele tá te ensinando inteligência emocional.

Então não espere tratamento diferente dele para contigo.

Vá dando-lhe a pior das iras, a indiferença.

Quando receber uma bronca faça cara de paisagem. Não converse com ninguém sobre o Tigrão, pois ele tem uma rede que vai te procurar, te instigar, para devolver pra ele como tu se sentiu. Ao saber pelos outros ele irá gozar de felicidade pelo que te provocou. Um caso de masoquismo projetado.

Então guarde só pra si.

Se quiser desabafar escreve um blog em homenagem as "tigraiadas" que recebe dele.

É uma forma humorada de ir sarando das investidas diárias contra tua pessoa. Vai registrando num diário.

Sem falar que depois você está todo documentado pra enfiar uma ação de Assédio nas costas dele.

Procure o sindicato, procure padre, pastor, psicólogo, amigos, converse, converse sobre o que está se passando.

Tente captar de pessoas, não diretamente envolvidas, ao revelar-lhes as cenas de tirania que está sendo vítima, se você não está aumentado as coisas, sendo muito dramático sensível ou vendo a vida pela lente da emoção.

Mas não tente educar um Tigrão. Nem chamá-lo para uma conversa

Nem surra de chicote de aroeira braba muda um autoritário. Não adianta chamá-lo para um conversa.

Não estou falando de conflitos diários entre colegas. Estou falando de um assediador. Não estou falando de dificuldades de relacionamento em equipe. Estou falando de um perseguidor cruel.

Para conflitos e relacionamento em equipe há jeito. Há formas de o grupo se educar e crescer. E superar.

Para a doença do assediador a forma é a justiça, a denúncia, é o pau no lombo.
Tem que sentir no bolso que os atos que praticam vão impossibilitar seu crescimento.

Mas, o tratamento que as organizações do trabalho dão a este tema é pífio.

E os sindicatos idem.

Espera-se que ações cheguem à justiça ou sindicato, para a intervenção.

E o que chega não representa nem 10% do que de fato ocorre. Então é preciso outro tipo de ação para coibir o assédio moral. Visitas aos locais de trabalho para conversas individuais, para monitoramento do fenômeno Tigrão e do Buana (tema do próximo capítulo).
Falta ação de campo, pesquisa nas bases. Aberturas de canais indiretos, e novas instâncias de participação.


E, caso tenha um Tigrão na tua equipe, e não o esteja usando em interesse próprio, chame-o para uma conversa difícil.

Tigrões temem a hierarquia e sabem obedecer a ordens que é uma beleza.

Basta dizer que tá de olho nele, para ele ficar igual a macarrão em água quente: molinho, molinho e escaldado.

Especialmente para uma vítima de um Tigrão que escutei seu desabafo na noite de ontem.

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